
Na Rádio Difusora, João Bosco Ramos de Lima fez de tudo. Ou
quase tudo. Foi o único dentre os muitos locutores que conseguiu o mérito de substituir o mestre Josué Cláudio de Souza, na apresentação da Crônica do Dia. Voz empostada, com a suavidade e a boa dicção dos grandes profissionais do microfone, fez história no rádio amazonense. Narrava, comentava jogos, apresentava ao lado de Índio do Brasil e Carlos Leal, programas de auditório. E foi exatamente animando comícios e anunciando Gilberto Mestrinho, Plínio Coelho, Almino Afonso, Artur Virgílio Filho, grandes líderes da época, que despontou para a política.
Dividindo o seu tempo de forma bem conveniente, foi um dos
fundadores, em 1956, da Associação dos Cronistas e Locutores Esportivos do Amazonas, onde exerceu a presidência. Em 1966 liderou o movimento que resultou na fundação da Federação Amazonense de Futebol. E, além de ter sido brilhante como narrador e admirado como comentarista, também teve eficiente atuação como editor de esportes nos primeiros momentos de existência do jornal A Notícia.
Bosco foi vereador, deputado estadual, presidente da Câmara
Municipal de Manaus, presidente da Assembleia Legislativa do amazonas, vice-governador (1975-1979) e despediu-se deste mundo, em maio de 1979, no início do seu mandato como Senador da República, sendo substituído pela suplente Eunice Michiles.
Mas João Bosco, pela sua versatilidade e grande paixão pelo
futebol, saboreou dois títulos como treinador. O Primeiro foi alcançado no comando do São Raimundo, em 1966. O segundo, em 1968, ao lado de Flávio de Souza, no Nacional.
Embora deixasse evidente a sua condição de torcedor do São
Raimundo, não pestanejou ao receber a proposta do desembargador
Joaquim Paulino Gomes, para dirigir o Nacional que desejava recuperar o prestígio de time ganhador.
Topou a parada, no instante em que a torcida nacionalina ainda
lamentava a perda do campeonato, no ano anterior, para o Olympico. E montou um time para vencer e convencer: Marialvo, Pedro Hamilton, Berto, Sula, Téo, Mário, Rolinha, Zezé, Rangel, Lió, Pepeta. Para ajudá-lo, na tarefa, convidou Flávio de Souza, grande conhecedor de música, de arbitragem e de futebol.
A vantagem é que ele podia contar com excelentes peças de
reposição. A turma da reserva dava inveja aos demais clubes. Bosco se dava ao luxo de contar com Zé Carlos, Jonas, Valdomiro, Mário Jorge, Holanda, Bell, Almir, Pretinho, Simões, Luizinho, Heraldo e Bosco Spener, para qualquer emergência.
Em 1970, João Bosco aceitou um grande desafio. Chamado por
Flaviano Limongi, presidente da FAF, para comandar a seleção
amazonense no jogo contra a seleção brasileira, na pré-inauguração do estádio Vivaldo Lima, achou por bem dividir a tarefa com Jayme Rebelo, outro grande nome do rádio. Jayme tinha a experiência dos gramados, pois na juventude havia atuado na condição de zagueiro central. Bosco ficou com o time A, enquanto Rebelo dirigiu o time B. A divisão foi perfeita até mesmo nos resultados: 4 a 1 na preliminar e no jogo principal. Os escores foram favoráveis aos times de Mário Jorge Lobo Zagallo, evidentemente.
No Nacional, Bosco ficou tão íntimo das vitórias que ao largar o
cargo por livre e espontânea vontade, deixou a torcida do Nacional mal acostumada. Na sede do clube, na rua Saldanha Marinho, falar de empate não era um bom assunto. Para dirigentes, associados e demais torcedores, o bom mesmo era vencer e, se possível, dando espetáculo.(Nicolau Libório é Procurador de Justiça aposentado, Ex-Delegado de Polícia, Jornalista e Radialista.) -22.08.25