No último dia 26, Luiz Eduardo Lustosa de Oliveira comemorou mais um aniversário. Falo hoje de um amigo que notabilizou-se como um dos melhores narradores esportivos do rádio amazonense. Juntos, nas rádios Rio Mar, Difusora e TV Amazonas registramos os grandes momentos do futebol. Juntos, em 1971, ingressamos na Faculdade de Direito do Amazonas, a velha Jaqueira. Amizade sólida que desafia o tempo.
Após o grito de gol, a marca inconfundível do narrador esportivo de inquestionável influência no rádio: “Tem nenê chorando na rede do goleiro fulano de tal …..”.
Subentende-se que o nenê seria a bola, mas isso é o que menos importa. O importante é que Luiz Eduardo Lustosa de Oliveira, o Lelo, com o seu estilo criativo e comunicativo, boa dicção, conseguia empolgar milhares de ouvintes, na fase áurea do futebol amazonense.
O que importa, também, é que ele conseguiu contribuir decisivamente para a profissionalização do ofício de cronista esportivo, no rádio. Antes, a agradável missão era feita por puro diletantismo. Os narradores, comentaristas, repórteres e plantonistas eram recompensados por simbólicas gratificações, que mal davam para pagar o transporte. Entenda-se transporte coletivo.
Eduardo conseguiu convencer a direção da sua emissora, a Rádio Rio Mar, em 1968, que a profissionalização seria benéfica para todos. Os locutores se sentiriam mais motivados a exercer suas atividades, os ouvintes teriam qualidade no maior número de informações e a Rádio melhoraria o faturamento com maior número de anunciantes.
Luiz Eduardo, quando rapazola, desejava mesmo era ser jogador de futebol. Foi bicampeão de futebol de salão, jogando pelo Olympico. No futebol de campo, inspirado no centroavante Mazola da seleção brasileira de 1958, andou vestindo as camisas do Rio Branco e do Canto do Rio.
Torcedor do Fast, arriscou uma vaga no seu clube de coração mas não teve ânimo para prosseguir. No Rio Negro, chegou a ser observado pelo técnico Cláudio Coelho, nos treinamentos no campo do Luso. Também não levou a ideia a frente.
No início dos anos 1960, alimentando sonhos de conseguir espaço no Vasco da Gama, no Rio de Janeiro, Lelo decidiu mesmo foi ocupar o
seu tempo nos estudos. Ingressou no Colégio Batista, localizado na rua José Higino de onde, após três anos, retornou a Manaus para servir ao Exército.
Foi no quartel que as suas aspirações esportivas ganharam novos contornos. Conheceu Mário Emiliano Marinho de Alcântara, de quem recebeu convite para ser radialista. Mário Emiliano já estava no rádio, já era nome conhecido nos meios futebolísticos. Aceitou o desafio.
-Nunca havia passado pela minha cabeça falar em microfone. Fiquei meio em dúvida, no começo, mas resolvi levar a coisa pra frente. Deu tudo certo.
Foi plantonista (aquele locutor que fica no estúdio informando os resultados dos jogos durante as transmissões dos jogos), repórter de pista e, rapidamente, chegou a condição de narrador. Mas as circunstâncias abreviaram a sua caminhada e o aproximaram do sucesso. Com a morte de Mário Emiliano, no dia 15 de agosto de 1965, Luiz Eduardo assumiu o comando da equipe. Reuniu Belmiro Vianez, Messias Sampaio, José Rayol, Carlos Alberto Silva, Osny Araújo. Eu, um humilde iniciante na Rádio Baré, fui apresentado a Luiz Eduardo, ainda em 1965, por Messias Sampaio, que à época era comentarista.
E a equipe foi crescendo: Luiz Eduardo, José Augusto Roque da Cunha, Osny Araújo(falecido no último dia 25), Ruy Mário, Nonato Farias (narradores); Belmiro Vianez, Messias Sampaio, Orlando Rebelo (comentaristas); Nicolau Liborio, Geraldo Viana, Lauro Henrique, Francisco Pugga, Jander Santos, Nilton Lins (repórteres); Flávio Seabra, Galdêncio Neto, Amândio Costa (plantonistas), Hernani Silva, Mário Jorge Costa, Paulo Gilberto Mendes (noticiaristas).
Enquanto a ideia de transmitir uma Copa do Mundo não se materializava, Luiz Eduardo inaugurava uma fase de transmissões de jogos fora do Estado: Belém, São Luiz, Porto Velho, Rio de Janeiro e, até fora do país: Iquitos. Se a cobertura da Copa de 1970, no México, não foi possível, pelo menos esteve presente em quase todos os jogos da fase eliminatória, no Brasil.
Vale lembrar que naquele tempo ainda não existia a Embratel e o sucesso ou insucesso das transmissões dependia da Radional ITT. Quando a qualidade de som era boa, dona Safira, diretora da Radional, tornava-se alvo de muitos agradecimentos. Quando nem tudo dava certo, ou quase tudo dava errado, só restava lamentar. Felizmente os lamentos foram poucos.
Filho de Aidil de Oliveira, que foi jogador do Cruzeiro do Sul, e dona Raimunda Lustosa de Oliveira, nascido no dia 26 de agosto de 1943, Luiz Eduardo encabeçou o movimento que resultou na fundação da Federação Amazonense de Futebol.
Além do rádio, teve participação marcante na televisão, sendo um dos primeiros apresentadores da TV Amazonas, na época em que a emissora transmitia a programação da Bandeirantes.
Em 1969, defendendo uma política salarial justa, resolveu não aceitar para ele e para os demais, o que era oferecido pela emissora. Diante do aceno vantajoso da Difusora, Luiz Eduardo levou com ele para a rádio de Josué Cláudio de Souza, mais três: Belmiro Vianez, José Augusto e Nicolau Liborio. Juntos com João Bosco Ramos de Lima, Carlos Carvalho, Luiz Saraiva, Jota Nunes, Osias Santiago e Paulo Soares, passaram a formar o que se denominou na época de Super Equipe.
Sempre alimentando sonhos mas sem se distanciar da realidade, investiu forte nos estudos. O garoto que teve como primeiro emprego a firma Souza Matos, fez sucesso no rádio, desejava obter êxito em outra área. Após concluir o curso científico, no Colégio Estadual do Amazonas (D. Pedro II), ingressou na Faculdade de Direito. Fui seu colega de turma na velha Jaqueira. Hoje o advogado Luiz Eduardo Lustosa de Oliveira tem muitas histórias para contar. Ele faz parte da história do rádio e da televisão amazonense.(Nicolau Libório é Procurador Justiça, Jornalista e Radialista – [email protected])