Natural de Lábrea, distante 852 quilômetros da capital, Maria Dilma Carlos Moreira, de 56 anos, faz tratamento na Fundação Centro de Controle de Oncologia do Estado do Amazonas (FCecon) desde junho de 2018 contra um câncer de mama, que é o terceiro mais incidente no estado. Maria Dilma é um dos 421 pacientes do interior do Amazonas atendidos pela unidade hospitalar de janeiro a dezembro de 2019, conforme dados disponibilizados pelo Serviço de Atendimento Médico Estatístico (Same/FCecon).
O relatório apresenta o número de prontuários abertos segundo a origem do paciente, informado na primeira consulta ambulatorial. Os cinco municípios com maior demanda por atendimento são Itacoatiara (56), Manacapuru (48), Iranduba (34), Parintins (34) e Manicoré (27). A capital concentra a maior demanda e atendimentos (4.828).
Segundo a responsável pelo Same/FCecon, Zenóbia Almeida Filha, a relação é elaborada com base no comprovante de residência do paciente. Ela afirma que a quantidade de pacientes do interior em tratamento pode ser bem maior, haja vista que, no momento da abertura do prontuário, muitos têm receio em apresentar o comprovante de onde realmente residem, o que não deveria ser uma preocupação, pois a unidade não faz distinção entre pacientes.
O registro do fluxo de referência intermunicipal de pacientes que necessitam e são atendidos na assistência de alta complexidade em Oncologia na FCecon disponibiliza informações para respaldar outras ações em saúde que permitam dirimir as dificuldades de acesso de determinadas populações menos privilegiadas, como apoio para permanecer na capital, serviço ofertado por instituições parceiras da Fcecon. De acordo com Zenóbia, o registro também é uma importante ferramenta de gestão hospitalar quanto aos indicadores epidemiológicos.
“Os motivos para tais atitudes dos pacientes (não informar endereço) são os mais diversos, por exemplo, medo de não ser atendido. Outros apresentam o comprovante de residência de parentes que moram em Manaus. Todavia, é importante que o paciente fale a verdade na hora da abertura do prontuário, uma vez que a informação servirá para a elaboração de ações de prevenção e controle no interior do estado”, alertou a responsável pelo Same/FCecon.
Assistência social – De acordo com a assistente social da FCecon, Maria Célia Viana Cidrônio, a identificação correta do paciente do interior é importante. Segundo ela, a Fundação trabalha em parceria com organizações não governamentais (ONGs) que dão apoio a essas pessoas, como, por exemplo, a Liga Amazonense Contra o Câncer (LACC), a Rede Feminina de Combate ao Câncer (RFCC-AM) e o Lar das Marias, além das representações dos municípios na capital.
“Os assistentes sociais da Fundação fazem uma avaliação do perfil socioeconômico do paciente, no qual são averiguadas as necessidades dele. Quando carente (de recursos), em tratamento de Radioterapia e Quimioterapia, ele recebe orientações e encaminhamentos para o apoio das ONGs, que doam cestas básicas, algumas medicações, muletas, kits de higiene, passagem de retorno ao município e por aí vai”, pontuou Célia Viana.
Hospedagem – No caso de pacientes homens que não têm onde residir durante o tratamento, Célia Viana informou que eles recebem das ONGs auxílio-aluguel no valor de R$ 300. Já as mulheres são encaminhadas ao Lar das Marias.
Acolhimento – É o caso de Maria Dilma, que mora no Lar das Marias desde o mês de agosto de 2018. Ela disse que para quem mora no interior é mais difícil realizar o tratamento na capital. “Tive que abandonar marido, filhos e netos. O custo para se manter também é muito alto, por exemplo, com aluguel, alimentação, transporte. O Lar das Marias foi uma bênção! Não gasto com nada. Tudo nos é fornecido gratuitamente e, assim, não tem como desistir”, afirmou.