As buscas pelo indigenista Bruno Araújo Pereira e pelo jornalista britânico Dom Phillips continuam nesta terça-feira (7) com o auxílio de um helicóptero, duas embarcações e uma moto aquática da Marinha do Brasil. Sete militares atuam nas atividades de busca com a utilização de uma lancha. Bruno e Dom estão desaparecidos desde o domingo (5) no Vale do Javari, no Amazonas.
O servidor da Funai (Fundação Nacional do Índio), que está licenciado de suas funções na fundação, era alvo de ameaças constantes por parte de garimpeiros e madeireiros na região. Segundo a Univaja (União das Organizações Indígenas do Vale do Javari), Bruno foi intimidado dias antes da viagem na companhia do correspondente do jornal The Guardian.
As ameaças teriam sido relatadas à Polícia Federal, ao MPF (Ministério Público Federal), ao Conselho Nacional de Direitos Humanos e a organizações internacionais de direitos dos povos indígenas.
Na noite desta segunda-feira (6), a PF ouviu duas testemuhas do caso, que prestaram depoimento e foram liberadas. O Vale do Javari, no extremo oeste do Amazonas, fica próximo à fronteira com o Peru e abriga ao menos 14 grupos isolados — a maior população indígena não contatada do mundo. A região é pressionada por invasores ligados a pesca e caça ilegal, garimpo e extração de madeira.
Em 2019, a base de Proteção Etnoambiental (Bape) do rio Ituí-Itacoaíi, que fica dentro da terra indígena, foi alvo de quatro ataques a tiros. Em um ano, entre novembro de 2018 e dezembro de 2019, houve oito investidas contra o posto, informou a Funai na época dos ataques. A Força Nacional chegou a ser enviada pelo Ministério da Justiça à região após o acirramento dos conflitos.
Desaparecidos na Amazônia
Bruno e Dom saíram de Atalaia do Norte para visitar a equipe de vigilância indígena do lago do Jaburu na sexta-feira (3). Eles deveriam ter voltado ao município no último domingo pela manhã. Segundo a Funai, Bruno Araújo não estava em “missão institucional”. De acordo com o órgão, embora ele ainda integre o quadro da fundação, estava de “licença para tratar de interesses particulares”.
Os dois viajavam em uma embarcação nova, com 70 litros de gasolina — o suficiente para o percurso — e sete tambores vazios de combustível. Por volta das 6h do domingo, eles chegaram à comunidade São Rafael, onde encontrariam uma liderança local. Sem conseguirem falar com o morador, decidiram voltar a Atalaia do Norte, viagem que deveria durar cerca de duas horas. Contudo, não chegaram à cidade.
“Às 14h00, saiu de Atalaia do Norte uma primeira equipe de busca da Univaja, formada por indígenas extremamente conhecedores da região. A equipe cobriu o mesmo trecho que Bruno Pereira e o jornalista Dom Phillips supostamente teriam percorrido, mas nenhum vestígio foi encontrado”, informa o comunicado da Univaja.
Bruno é indigenista especializado em povos indígenas isolados e conhecedor da região, onde foi coordenador regional por cinco anos. Já Phillips mora em Salvador, na Bahia, e faz reportagens sobre o Brasil há 15 anos para o New York Times e o Washington Post, bem como para o jornal The Guardian.
Segundo informações divulgadas pelo The Guardian, a embaixada britânica no Brasil também acompanha o caso. “O Guardian está muito preocupado e busca urgentemente informações sobre o paradeiro e as condições de Phillips. Estamos em contato com a embaixada britânica no Brasil e autoridades locais e nacionais para tentar apurar os fatos o mais rápido possível”, diz a nota.(R7 Brasília)