
Durante mais de uma década, eu e João Braga formamos dupla
de comentaristas da Rádio Difusora, nas transmissões esportivas.
Lembro do bate papo agradável nas tardes de domingo, antes
dos jogos, na tribuna de honra do estádio Vivaldo Lima. Lá
estavam Gebes Medeiros, Flaviano Limongi, Carlos Carvalho,
Manoel do Carmo Chaves, Luiz Eduardo, Carlos Zamith, João dos
Santos Pereira Braga, Arnaldo Santos, entre tantos outros ícones
do esporte amazonense, que chegavam mais cedo para atualizar
os assuntos da semana e contar divertidas anedotas. O tempo foi
passando, o futebol amazonense foi perdendo o seu encanto e,
lamentavelmente, alguns desses amigos se despediram da vida.
No dia 26 de novembro de 2018, João Braga deixou este mundo
para percorrer os indecifráveis caminhos da eternidade, mas
deixou o seu nome marcado na área esportiva, no magistério e
no mundo jurídico. Um verdadeiro intelectual que tinha como
destacada virtude a simplicidade. Fui seu aluno na Faculdade de
Direito, no início da década de 1970.
Fui seu colega na redação do extinto jornal A Notícia e grande
amigo em razão da longa convivência diante dos microfones da
nossa querida Rádio Difusora. No extinto jornal A Notícia, que
tinha a sua redação localizada em um prédio na praça Tenreiro
Aranha, no centro da cidade, fui seu subordinado na editoria de
esportes. Eu já havia ingressado na Faculdade de Direito, onde o
meu saudoso amigo lecionava a disciplina Teoria Geral do Estado. Acreditando na generosidade do chefe, negligenciei e fui
punido: tirei nota quatro, logo na primeira prova.
O interessante é que, por pura ironia, fui indagado por ele sobre
o meu desempenho: você tirou quanto, qual foi a sua nota? E
diante da resposta, ele foi logo afirmando: estuda para não ser
reprovado. Segui o conselho do amigo e me dei bem.
João Braga deu adeus, mas deixou boas lembranças: na minha
breve passagem pelo curso de contabilidade, no colégio Sólon de
Lucena, em 1965, ele foi meu professor de matemática; na época
em que exerci o cargo de delegado de polícia de 1978 a 1985, foi
um grande conselheiro.
Após a minha aprovação, no concurso para o cargo de promotor de justiça, e nas minhas primeiras atuações na comarca de Maués, sempre procurava ouvi-lo.
Afinal de contas, ele foi uma das figuras destacadas nos grandes debates no tempo em que o tribunal do júri, em Manaus, funcionava no palácio da justiça, na avenida Eduardo Ribeiro, e que reunia Félix Valois (brilhante orador), Lupercino Sá Nogueira, João Valente, Altair Thury, Olavo Faria, Salvador Conte, isso só para citar alguns destacados nomes da época. O doutor Gebes Medeiros me disse certa vez: Braga não é de discursos, ele é um grande expositor. Com tranquilidade, sólidos argumentos, conhecimento jurídico e experiência de magistério, conseguia prender a atenção de qualquer plateia.
Quero lembrar ainda de uma situação que foi realmente
marcante. Eu estava prestando concurso para o cargo de
Promotor de Justiça, em 1984, e com muitas dificuldades estava
conseguindo vencer etapas. Ele, com a calma que lhe
caracterizava, não negava orientações e incentivo para que o
êxito acontecesse. E aconteceu, deu tudo certo. Lembro ainda que ele foi professor da minha esposa Soraya e da minha filha
Danielle, no curso de Direito, na Faculdade Nilton Lins. As duas
tinham respeito e admiração pela postura ética do mestre que
foi um grande amigo da minha família.
Vários nomes consagrados da Magistratura, do Ministério
Público, da Advocacia e da segurança pública foram discípulos do
Mestre João dos Santos Pereira Braga, no curso de Direito da
Universidade Federal, no saudoso prédio da praça dos Remédios,
e de algumas faculdades particulares. O homem sereno, de
hábitos simples, reconhecida cultura e enorme capacidade de
multiplicar amigos, prestou relevante contribuição ao esporte do
Amazonas. Em vida foi professor, jornalista, advogado, secretário
de Estado, delegado geral de polícia, Procurador Geral de Justiça,
membro do Ministério Público de Contas, Conselheiro do
Tribunal de Contas, Procurador Geral do Município. Uma
trajetória vitoriosa.
O que pouca gente tomou conhecimento é que o irmão do José,
do Lourenço e do Robério, fastiano convicto, na sua juventude
foi atleta do time aspirante do América, do Amadeu Teixeira e,
também, um solitário torcedor do Bangu. Para quem não sabe
ou não lembra, o clube proletário, como é conhecido o time
carioca, conquistou o campeonato de 1966, em cima do
Flamengo, com uma impiedosa goleada de três a zero.
Foi, em 1966, um dos fundadores da Federação Amazonense de
Futebol ao lado de Flaviano Limongi, João Bosco Ramos de Lima,
Belmiro Vianez, Luiz Saraiva, Leal da Cunha, Carlos Zamith,
Ismael Benigno, Raimundo Moreira, Renato de Souza Pinto e
outros abnegados. Por amizade, aceitou o convite para dirigir a
Comissão de Arbitragem e, tempos depois, passou a integrar o Tribunal de Justiça Desportiva. No órgão judicante sabia discernir
a sua simpatia pelo Fast dos interesses maiores do esporte
amazonense. Deu a sua contribuição com serenidade, inquestionável inteligência e indiscutível competência.(Nicolau Libório é Procurador de Justiça aposentado, ex-Delegado de Polícia, Jornalista e Radialista.) – 18.07.25)