O escritor tcheco Milan Kundera, autor de “A Insustentável Leveza do Ser” – um dos principais romances do século XX – morreu em Paris aos 94 anos. A informação foi divulgada nesta quarta-feira (12) pelo grupo editorial francês Gallimar.
A TV estatal da República Tcheca também anunciou a morte de Kundera, que nasceu na cidade tcheca de Brno em 1929. Ele vivia em Paris desde 1975.
O escritor se exilou na França à época, após ser condenado em seu país natal por criticar a invasão de tropas soviéticas à Tchecoslováquia em 1968, que reprimiu a Primavera de Praga, como ficou conhecido o movimento de democratização feito pelo governo da época.
Segundo a editora Gallimar, Kundera morreu na terça-feira (11) na capital francesa. A causa da morte ainda não havia sido divulgada até a última atualização desta reportagem.
‘A Insustentável Leveza do Ser’
Um dos principais romances do século XX, “A Insustentável Leveza do Ser”, lançado em 1984, inicia justamente com tanques soviéticos rodando por Praga, a capital tcheca, onde o autor viveu até 1975, quando se exilou em Paris.
Amarrando temas de amor, exílio, política com um texto profundamente pessoal, a obra foi aclamada pela crítica e deu a ele reconhecimento, com um grande número de leitores entre os ocidentais, que abraçaram tanto sua subversão antissoviética quanto o erotismo presente em muitas das suas obras.
A história tem como pano de fundo a Primavera de Praga, em junho de 1968, com a invasão soviética do país que durou até agosto daquele ano. A trama segue um cirurgião de Praga, que se exilou em Geneva e retorna para casa.
Ao se recusar a se curvar ao regime comunista, Tomás se torna um lavador de janelas e usa sua profissão para ter relações sexuais com suas clientes. Ele abraça a “leveza” e justifica suas ações com base na fidelidade emocional que tem por sua esposa, Tereza.
Uma de suas amantes, Sabina, uma talentosa artística plástica, cuja a obsessão sexual briga com a de Tomás, conduz a “leveza” ao extremo com sua total falta de compromisso com os outros. Já Tereza é a personificação do “peso”, principalmente por se entregar de corpo e alma ao seu marido, além de seus ideais políticos. Tomás e Tereza acabam seus dias em uma vida tranquila no campo.
O livro foi publicado em inglês e francês em 1984. No ano seguinte, foi lançado no original tcheco e rendeu a ele o Prêmio Nacional de Literatura, ainda que proibido na Tchecoslováquia até 1989.
Jiri Srstka, o agente literário tcheco de Kundera na época em que o livro foi finalmente publicado na República Tcheca, disse que o próprio autor atrasou seu lançamento por temer que fosse mal editado.
“Kundera teve que ler todo o livro novamente, reescrever seções, fazer acréscimos e editar todo o texto. Portanto, devido ao seu perfeccionismo, este foi um trabalho de longo prazo, mas agora os leitores receberão o livro que Milan Kundera acha que deveria existir”, disse Ststka à Rádio Praha na época.(g1)