O ministro da Saúde da Bolívia, Marcelo Navajas, foi preso ontem (20) e afastado do cargo por envolvimento em um suposto esquema de superfaturamento na compra de 170 respiradores de uma empresa espanhola, adquiridos para o tratamento do novo coronavírus. Ele foi detido e prestou depoimento nas dependências da Força Especial de Luta contra o Crime (Felcc), a polícia especializada boliviana, em La Paz. Outros quatro servidores da pasta também foram detidos e afastados dos cargos.
Os respiradores teriam sido comprados por um valor três vezes maior do que o normal, em compra financiada pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). O estado boliviano pagou US$ 4,7 milhões (cerca de R$ 26, 5 milhões) a uma empresa intermediária que, segundo o fabricante, custaram US $ 1,4 milhão (cerca de 8 milhões de reais). Além de superfaturados, os equipamentos não atendiam os requisitos solicitados.
Interinamente, a vice-ministra de Saúde e Promoção, Eidy Roca, assumiu o ministério.
Segundo Álvaro Coimbra, ministro da Justiça, todas as pessoas envolvidas no processo de aquisição dos equipamentos serão investigadas. Ontem foram presos também o diretor de Assuntos Jurídicos do Ministério da Saúde, Fernando Valenzuela, e o diretor da Agência de Infraestrutura de Saúde e Equipamento Médico (Aisem), Giovanni Pacheco.
Segundo Coimbra, o Ministério da Saúde era a unidade solicitante dos respiradores e o Aisem, a unidade executora, responsável pelo processo de contratação e que deveria ter observando os preços de referência. “A indignação, o que é imperdoável, é que o equipamento foi comprado por três vezes o preço e há pessoas do governo incluídas nisso. Há uma impressão de que isso tenha sido de propósito”, disse Coimbra.
Antes da assinatura do contrato para a compra de 170 respiradores, o diretor da Agência de Infraestrutura de Saúde e Equipamento Médico (Aisem), Giovanni Pacheco, recebeu um relatório técnico que avisava que os equipamentos não atendiam às especificações técnicas recomendadas pela Organização Pan Americana da Saúde, nem pela Organização Mundial da Saúde. Apesar do aviso, foram adquiridos supostamente com a autorização do ministro da Saúde, Marcelo Navajas.
Em nota, o Banco Interamericano de Desenvolvimento pediu “sanções públicas contra empresas e indivíduos que usam práticas proibidas em licitações financiadas pelo Banco” e responsabilizou o governo boliviano pela compra.
O director da Felcc, Iván Rojas, disse que a investigação está em fase avançada. “O trabalho está sendo realizado seguindo uma linha de transparência no sentido de que vamos seguir convocando pessoas que têm algum vínculo ou ligação com o fato.”
A Bolívia, com uma população 11,3 milhões de habitantes, tem 4.919 casos confirmados e 199 mortes até o momento.(Agência Brasil)