Morre aos 87 anos a Irmã Helena, famosa líder de ocupações em Manaus

Foto: Arquivo

Freira que ficou conhecida em Manaus por sua luta social e líder de ocupações de terras, pelo direito à moradia moradia popular, com ocupação de áreas da União griladas, a irmã Helena Augusta Walcott, 87 anos, faleceu nesta segunda-feira (13/6), e seu velório acontecerá no Colégio Preciosíssimo Sangue, na avenida Constantino Nery, São Geraldo. A missa de corpo presente será às 14h45 e o sepultamento às 16h00. A causa da morte não foi informada.

Filha de Lorenzo Walcott e Clarissa Knights, nascidos em Barbados, descendentes dos povos de Guiné Bissau e Senegal, Helena foi a caçula de sete filhos, nasceu no Brasil, após a família estabelecer-se integralmente no país, por conta do trabalhado conseguido por seu pai na construção da estrada Madeira Mamoré.

Sua luta pelo direito à terra data das décadas de 1970 a 1990, buscando garantir o acesso a padrões mínimos de dignidade humana. Na periferia de Manaus ocorriam as disputas com grileiros pelas terras em bairros como Compensa, Terra Nova, São José, João Paulo II, Zumbi dos Palmares I -II, Nossa Senhora de Fátima, Novo Israel, Armando Mendes e São Jorge. Além de Redenção, zona centro-oeste, e Japiim, zona sul. Entre estes processos de ocupação, a Irmã Helena sempre esteve à frente.

Em 1987, no Armando Mendes, na saída de uma reunião com comunitários, Helena sofre um atentado, comandado por grileiros, que resultou na morte de Altenor Cavalcante. Antes da ação social por moradia, a irmã lecionava, nos anos 60, francês em uma escola em Manacapuru.

Conforme depoimento da jornalista Elizabeth Vasconcelos Menezes, no Facebook, “seu nome “frequentava” muito as páginas policiais dos jornais. As outras freiras, no convento, temiam pela sua vida. Tanto temiam que um dia convenceram Irmã Helena a passar uns tempos na África. Tanta para contar! Irmã Helena não aceitava ser chamada de chefe de invasão de terras. Um dia, me contou: “O Alfredo Nascimento sempre dizia: ´Irmã Helena não faz invasão. Ela faz ocupação´. E é isso mesmo: ocupação”.

Legado

“Irmã Helena, a mãe dos sem teto, assim como era conhecida, foi líder e coordenadora do Movimento dos Sem Teto nos anos 70, 80 e 90, garantindo moradia digna ao povo pobre de Manaus. Bairros como Novo Israel, Terra Nova, Redenção, Bairro da Paz, Zumbi dos Palmares, São José, Lírio do Vale, Nossa Senhora de Fátima, São Geraldo e Santa Etelvina só existem hoje, graças à luta encampada por essa importante liderança.

Em 2018, tive o privilégio de homenagear Irmã Helena na primeira edição do livro Vidas que Falam, contando a sua história de vida, como uma grande lutadora dos direitos humanos, da justiça e da paz.

Nossos mais sinceros sentimentos a toda a família e aos amigos de Irmã Helena, assim como a toda a Congregação das Adoradoras do Sangue de Cristo, da qual fazia parte. Ela deixa um lindo legado, como lenda vida das ocupações de terras no Amazonas.”

História

A noviça Helena fez a profissão de votos religiosos na Congregação das Irmãs Adoradoras do Preciosíssimo Sangue, recebendo o nome de Irmã Vilma com o qual me deu aulas. Trajava o hábito antigo do tempo da finada Beata Maria de Mathias. No balanço final, o Movimento dos Sem Tetos com o apoio da Pastoral da Terra conquistou moradia para quase meio milhão de pessoas, que criaram pelo menos 15 novos bairros em Manaus.(Portal Marcos Santos)