No Campo da Astrologia – Por Nicolau Libório

Procurador de Justiça Nicolau Libório(AM)

A astrologia sempre fez sucesso no mundo. Tem muita gente boa que acredita na força dos astros e que eles são capazes de influenciar na vida de cada um de nós. Embora seus postulados não possam ser submetidos à comprovação experimental para que seja reconhecida como ciência, é conhecida e reconhecida desde muitos séculos atrás na Índia, China, Egito, Pérsia e Grécia. Na Grécia, por exemplo, o assunto merecia atenção especial dos filósofos Heráclito e Pitágoras.

Os mesopotâmicos em era distante admitiam que o ser humano, por meio da astrologia, poderia medir a possibilidade do sucesso ou da derrota, através dos signos, levando-se em conta os quatro elementos da natureza: água, fogo, ar e terra. Pelas razões expostas é que, em 1976, na época em que eu exercia a função de editor de esportes do jornal A Notícia, resolvi fazer uma matéria especial para a grande decisão do campeonato envolvendo Rio Negro e Nacional.

A primeira providência foi fazer um levantamento dos signos dos jogadores. Consultei um entendido no assunto, que me disse que esse trabalho deveria abranger também os membros da comissão técnica. Pesquisa pronta, exultei quando tomei conhecimento que o grande Omar Cardoso, o papa da astrologia no Brasil, viria a Manaus a fim de proferir palestras sobre o assunto. Omar era um nome muito respeitado, suas opiniões eram tidas como verdadeiros conselhos a todos aqueles que não conseguiam sair de casa antes de ouvir as previsões astrológicas, na Rádio Difusora.

Consegui conversar com Omar Cardoso, no instante em que ele atendia uma centena de senhoras ansiosas, em uma loja de eletrodomésticos, na Eduardo Ribeiro. Expliquei a ele o propósito da matéria, que visava demonstrar a força dos signos numa pugna esportiva. Até que ponto os astros poderiam influenciar no resultado da decisão que estava mexendo com os nervos das duas maiores torcidas do Estado. No primeiro momento o astrólogo não se interessou pela ideia, mas a minha educada insistência conseguiu fazê-lo mudar de opinião. Perguntou-me se eu poderia fazer o levantamento de dados para a análise. Respondi-lhe que sim e, de imediato, passei-lhe às mãos. O resultado do estudo me foi entregue no dia seguinte, terça-feira, véspera do clássico Rio-Nal decisivo.

Na análise de Omar Cardoso, levando em conta o signo principal ou solar, o signo ascendente e o signo lunar, o Rio Negro teria uma certa probabilidade de vitória. Considerou os quatro elementos da natureza e suas influências. Para a astrologia os signos de água são peixes, câncer e escorpião. Os signos de ar são aquário, gêmeos e libra; os de fogo, áries, leão e sagitário e os de terra são capricórnio, touro e virgem. Na relação de jogadores e de membros da comissão técnica do Rio Negro havia um considerável número de pessoas nascidas sob os signos de touro e leão. Aí é que estava a diferença que poderia oferecer influências positivas para o alvi-negro.

Omar explicou-me que as pessoas de touro ou leão exercem forte influência em qualquer grupo e estão sempre decididas a vencer. A exuberância, o carisma e a confiança são características que o fogo derrama sobre o jeito de ser de leão.

Sobre touro, falou da persistência dos nascidos sob este signo. São pessoas determinadas que buscam os seus objetivos com tranqüilidade e paciência. Resumindo: o Rio Negro tinha tudo para por a mão na taça.

De volta à redação, levei o assunto ao conhecimento do editor geral, Bianor Garcia, que gostou da ideia. No caderno de esportes, tive o cuidado de ressaltar que se tratavaa apenas de uma previsão astrológica e de que o jogo teria que ser decidido em campo, na bola, nos noventa minutos. No título principal, entretanto, destaquei a probabilidade de vitória do Rio Negro, clube pelo qual Bianor Garcia era fanático torcedor.

Como a decisão do campeonato era o assunto principal da cidade, o editor geral resolveu abalar o emocional do ambiente do Nacional, publicando uma manchete na primeira página que revoltou os jogadores: “Galo será campeão”.

A Notícia era um jornal muito lido, na época, sobretudo pela forma como explorava com muita competência as ocorrências policiais. E tão logo o primeiro exemplar chegou à concentração do Nacional, na rua Ferreira Pena, os jogadores, liderados por Alcir Portela, ex-Vasco da Gama, ficaram muitos contrariados. Se até aquele momento eles estavam encarando a decisão sob um clima de monotonia, resolveram considerar o jogo como uma verdadeira “guerra”. O lateral Luiz Florêncio ficou uma fera e dizia diante dos repórteres que se dependesse dele “as previsões do astrólogo iriam furar”. Alcir, sereno, pedia calma e muito empenho, enquanto Bibi não escondia o seu otimismo ao garantir que a verdadeira manchete do jornal teria que ressaltar os méritos da grande vitória do seu time. E foi assim que o Nacional, contrariando as probabilidades do campo astrológico, venceu o campeonato de 1976, com Borrachinha, Antenor, Renato, Antônio Carlos e Luiz Florêncio; Alcir Portela e Bibi; Botelho, Netinho, Carlinhos e Nilson.(Nicolau Libório é Procurador de Justiça, Jornalista e Radialista – nicolauliboriomp@gmail.com)