No dia em que Bolsonaro veta ajuda aos indígenas, famílias de Barreirinha recebem cestas básicas

A Prefeitura de Barreirinha forneceu cestas básicas a cerca de 2,1 mil famílias, isoladas por conta da pandemia, nos rios Andirá e Marau. Foram mais de cem toneladas de alimentos, em parceria com a Fundação Nacional do Índio (Funai). A ajuda chega no momento em que o presidente Jair Bolsonaro sancionou com vetos a lei 14.021, para proteção social em territórios indígenas. Ele vetou a obrigação dos governos de oferecer água potável e leitos hospitalares em emergência, além de o favorecimento do acesso de índios ao auxílio emergencial.

A distribuição teve mais de 4,5 mil unidades de cestas básicas, destinadas a cerca de 80 aldeias da etnia Sateré-Mawé. Há mais de 90 dias, a reserva indígena do Andirá-Marau está sob isolamento social total. A tática foi adotada para evitar que casos do novo coronavírus acometam os indígenas da região de Barreirinha. Lá (área indígena) não há nenhum caso novo registrado desde maio. A entrega seguiu os protocolos estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Um técnico da Fundação de Vigilância em Saúde (FVS) executou a desinfecção, com pulverizador Stihl SR 420. A medida é preventiva contra possíveis vírus alojados nas embalagens.

Mais casos de Covid-19 Os casos de Covid-19 em Barreirinha têm aumentado constantemente, como mostram boletins da FVS-AM. Já ultrapassaram mais de 500 confirmações positivas, nos últimos 15 dias. A chegada das cestas básicas até os sateré-mawé evita que indígenas sejam infectados, podendo disseminar o vírus nas demais aldeias. O prefeito de Barreirinha, Glenio Seixas, afirma que a preocupação com a vida dos povos tradicionais é prioritária. Antes da pandemia, eles sempre enfrentaram grandes distancias para acessar políticas socioassistenciais e serviços de bem comum. “Sabemos dos empecilhos que a nossa logística nos impõe. Ainda mais com a pandemia, que obrigou o povo indígena a se recolher para evitar que muitos parentes fossem dizimados por este vírus terrível. A partir da parceria com as entidades governamentais e sem fins lucrativos, nós estamos possibilitando que a população ribeirinha receba atenção especial, neste momento delicado”, disse o prefeito.

A ação da Prefeitura de Barreirinha se deu pelas secretarias municipais de Assistência Social (Semas) e Saúde (Semsa), além do Departamento de Assistência ao Índio (DAI). O suporte da Funai garantiu os arranjos finais para a distribuição dos donativos. Sérgio Butel, coordenador da Funai no Baixo Amazonas, disse que, sem a parceria da administração municipal de Barreirinha, seria quase impossível beneficiar a população mawé com essa ajuda humanitária. “Uma logística para realizar a entrega de mais de cem toneladas de alimentos exige bastante esforço conjunto. Nesse sentido, nós contamos com o apoio da Prefeitura de Barreirinha. O povo Sateré fica satisfeito em receber essa atenção e esse apoio por parte do poder público”, afirmou.

Cada chefe de família recebeu duas cestas básicas, que, somadas, chegavam a 22 quilos de alimentos. O líder indígena da comunidade Vila Nova, Juca Miquiles, disse que “o povo ficou feliz”. Ele lidera a maior aldeia indígena do Alto Andirá. As mais de cem famílias da comunidade foram reunidas para receber a ajuda humanitária. “Com esse distanciamento social e a população não podendo sair, chegar um benefício como esse é tão louvável, pois, quando chegaram essas cestas básicas na comunidade, o povo ficou muito feliz”, destacou o tuxaua.

A Lei, vetos e obrigações A Lei Federal vetada parcialmente por Bolsonaro é oriunda de projeto aprovado em 16 de junho pelo Senado. Visa proteger comunidades quilombolas, povos tradicionais e indígenas que vivem em áreas urbanas ou rurais na pandemia. O veto atinge a obrigação da União, Estados e Municípios de fornecer alimentos, sementes e ferramentas agrícolas, diretamente, para os indígenas e comunidades tradicionais. Os governos federal, estaduais e municipais ainda ficam obrigados, pela parte mantida na Lei, a garantir a participação de Equipamentos Multiprofissionais de Saúde Indianos (EMSIs) qualificados e treinados, bem como Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) qualificados e disponíveis, nas comunidades. O acesso a testes rápidos e moleculares, medicamentos e equipamentos médicos usados ​​para identificar e combater os vírus, também foram mantidos.

Fonte: Portal Marcos Santos