NOVO ANO – Por Felix Valois

Advogado Felix Valois(AM)

Vai-se 2022. Com ele se vai um hiato de quatro anos na democracia brasileira, nunca antes tão ameaçada pela ferocidade de uma direita insana e inconsequente. Suportamos com estoicismo um governo cuja principal atividade era a difusão de um sentimento de raiva generalizado. Como não tinha ele uma direção específica, o resultado era o ambiente de ódio, desconfiança e intranquilidade, que permeava a nação e nos deixava a todos perplexos com o avanço da crueldade.

O presidente que nos deixa nunca se deu conta da importância de seu cargo e de sua postura para moldar o comportamento da Nação. Inacreditável que, enquanto o país mergulhava no caos profundo decorrente da pandemia, ele aparecesse na televisão debochando de quem padecia de falta de ar. Na mesma onda de estupidez, minimizava os mortais ataques da doença, enquanto milhares de famílias brasileiras se viam às voltas com a falta de oxigênio, buscando alternativas para impedir uma morte cruel.

A cloroquina parece ter ocupado um lugar especial no subconsciente de Bolsonaro. Porquê, não sei. Mas, não fora assim, não se teria ele empenhado com tanto vigor na defesa da aplicação do remédio, ao mesmo tempo em que a voz da ciência, no mundo inteiro, demonstrava que, no caso específico, não passava de um placebo.

Bolsonaro não teve sequer a dignidade de saber perder. Apesar de ter tido uma votação inexplicável, por tudo o que ele representa de estupidez, não soube reconhecer o resultado das urnas, permitindo que as sandices mais surreais se apresentassem no país, após o resultado das urnas. Com efeito, se é possível que seus admiradores não admitam ser ele o responsável direto por essa maluquice da frente dos quartéis, não se consegue negar, de outra parte, que ele, com seu silêncio e suas atitudes equívocas, incentivou o delírio golpista de milhares (milhões?) de idiotas.

Implanta-se um novo governo. Seus adversários ferrenhos (talvez devesse dizer inimigos) não lhe querem admitir essa qualidade de “novo”. Propalam que essa experiência já foi vivida e, no resumo mais apertado que conseguem fazer, chegam à singela conclusão, fácil de ser difundida, de que “Lula é ladrão”.

É uma conclusão simplória e irresponsável, na medida em que não encontra respaldo em nenhuma decisão judicial capaz de corroborar a ideia. Mas o fanatismo leva a esses extremos e é impossível fazer brotar alguma racionalidade em terreno cultivado por fanáticos.

Da minha parte, eu que já teci críticas acerbas aos governos de Lula e Dilma, eu que, na época, não consegui dimensionar o tamanho do golpe contra a

democracia que foi o impeachment, eu digo que, fossem das mais terríveis as qualificações de Lula, ainda seria ele infinitamente melhor do que Bolsonaro.

Se nada mais justificasse essa crença da minha parte, bastaria que eu falasse de um sentimento de difícil definição: a liberdade. Com o fim desse pesadelo bolsonarista, é possível voltar a sonhar. É possível pensar num Brasil em que o sentimento de fraternidade esteja na base do comportamento social. Num Brasil, enfim, em que pensemos nos outros como irmãos. Nunca, como inimigos. Um Brasil sem ódio, sem desejo de vingança e sem repressão. Um Brasil verdadeiramente brasileiro.(Felix Valois é Advogado, Professor, Escritor e Poeta – [email protected])

Feliz Ano Novo. Estarei ausente no próximo mês.