
Diante da baixa representatividade do setor agropecuário, pouco mais de 3% do PIB estadual, venho há algum tempo levantando a bandeira de criação de uma empresa estadual de pesquisa agropecuária, com estrutura técnica infensa a influências político-partidários, destinada a promover a governança do sistema de P&D local, ora disperso, desestruturado e contaminado por individualidades sociais, culturais e tecnológicas.
A instituiçãomteria como foco central, especificamente, a eliminação do grave distanciamento cristalizado entre o sistema de ensino e pesquisa, o setor privado e a estrutura de planejamento estadual. O sistema é consolidado praticamente em todo o país a partir de exemplos como Epamig, em Minas Gerais,e Iapar, no Paraná, absolutamente representativos da eficácia do instituto.
A Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG), constituída como empresa pública em 1974, surgiu do Programa Integrado de Pesquisas Agropecuárias do estado de Minas Gerais – PIPAEMG. Fundada em 1971, tornou-se a primeira iniciativa de coordenação e integração das instituições de pesquisa agropecuária de Minas. Para se ter ideia da importância do Programa, a partir da base de integração realizada pelo PIPAEMG, foi criada, em 1973, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) e o Sistema Cooperativo de Pesquisa Agropecuária (SCPA) com o objetivo de impulsionar o desenvolvimento agrícola nacional por meio da
geração de conhecimento e soluções tecnológicas para melhorar a qualidade e produtividade do campo.
O Instituto Agronômico do Paraná – Iapar, fundado em 1972, exatamente na ambiência e efervescência da instalação da Embrapa. O Iapar é o órgão oficial de pesquisa agropecuária do Paraná, sendo responsável pela formação de vários profissionais alinhados à sua missão de “prover soluções inovadoras para o meio rural e o
agronegócio do Paraná”. Nesse campo, o Instituto tem como diretriz solucionar problemas por meio de inovações apropriadas ao clima, solos e ao perfil social e econômico dos produtores paranaenses. Há 45 anos o órgão contribui para o desenvolvimento do estado atuando em várias frentes.
Muitos estudos do Iapar forneceram as bases técnicas para a conservação do solo e da água e a proposição de sistemas mais sustentáveis de produção agropecuária. Dentre muitos outros, estudos sobre plantio direto, rotação de culturas, citricultura, integração lavoura-pecuária-floresta, café e zoneamento agroclimático vêm contribuindo significativamente para a estruturação de cadeias produtivas mais eficientes, a melhoria da
qualidade de vida no campo e a preservação do planeta. Em relação ao melhoramento genético, destacam-se mais de 200 cultivares desenvolvidas, com destaque para as culturas de feijão, trigo, milho, café, laranja e maçã.Pioneiro no tema, em 1981 o Instituto lançou seu primeiro livro sobre essa prática que se tornou um dos pilares da agricultura moderna, adotada em mais de 30 milhões de hectares no Brasil.
Além de cursos, práticas de campo, seminários e outros eventos, o Instituto divulga os resultados de suas pesquisas em livros e boletins técnicos – são mais de 500 publicações editadas nesses 45 anos. A transferência de tecnologias ainda se consolida em parcerias, prestação de serviços tecnológicos, acordos de cooperação e
projetos de desenvolvimento específicos. Com sede em Londrina, o Instituto mantém cinco polos regionais (Curitiba, Ponta Grossa, Paranavaí, Pato Branco e Santa Tereza do Oeste), 19 fazendas experimentais e 18 estações agrometeorológicas (também utiliza dados coletados por 37 estações do Sistema Meteorológico do
Paraná-Simepar). O Iapar tem em seu quadro de pessoal cerca 600 funcionários, entre pesquisadores – a maioria com doutorado e pós-doutorado – e pessoal de apoio técnico. Somam-se ainda 500 colaboradores temporários (pesquisadores voluntários, bolsistas, estagiários, trabalhadores terceirizados, etc.).
O Amazonas, se pretende efetivamente desenvolver o setor primário, impulsionar o agronegócio no Estado e promover a integração PIM/Bioeconomia, obriga-se a participar desse clube, via IPAG-AM. Do contrário, a economia estadual vai continuar dependente da Zona Franca de Manaus, que em 57 anos não foi capaz de cumprir as funções essenciais que levaram à criação do órgão, dispostas no Art. 1º, do DL 228/67, isto é, de gerar, ipsis litteris, “uma área de livre comércio de importação e exportação e de incentivos fiscais especiais, estabelecida com a finalidade de criar no interior da Amazônia um centro industrial, comercial e agropecuário dotado de condições econômicas que permitam seu desenvolvimento, em face dos fatores locais e da grande distância, a que se encontram, os centros consumidores de seus produtos”.
Vale destacar, porque poucos se dão conta desse dispositivo, o preceituado no Art. 11, que define as atribuições da Suframa: a) elaborar o Plano Diretor Plurianual da Zona Franca e coordenar ou promover a sua execução, diretamente ou mediante convênio com órgãos ou entidades públicas inclusive sociedades de economia mista, ou através de contrato com pessoas ou entidades privadas; b) revisar, uma vez por ano, o Plano Diretor e avaliar, os resultados de sua execução; c) promover a elaboração e a execução dos programas e projetos de interêsse para o desenvolvimento da Zona Franca; d) prestar assistência técnica a entidades públicas ou privadas, na elaboração ou execução de programas de interêsse para o desenvolvimento da Zona Franca; e) manter constante articulação com a Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM), com o Governo do Estado do Amazonas e autoridades dos municípios em que se encontra locaolizada a Zona Franca; f) sugerir a SUDAM
e a outras entidades governamentais, estaduais ou municipais, providências julgadas necessárias ao desenvolvimento da Zona Franca; g) promover e divulgar pesquisas, estudos e análises, visando ao reconhecimento sistemático das potencialidades econômicas da Zona Franca. Inexiste, até a presente data,
documento abrangente prestando conta do atendimento dessas exigências legais.(Osíris M. Araújo da Silva é Economista, Consultor de Empresas, Professor, Escritor e Poeta – [email protected]) – Manaus, 25 de agosto de 2025.