O Alfaiate Infuente – Por Nicolau Libório

Procurador Nicolau Libório(AM)

Confeccionar os ternos do governador Plínio Ramos Coelho era uma das tarefas do alfaiate Luiz Farias Martins, o Luizinho. A outra, tão importante quanto a primeira, era a de alinhavar as negociações para reforçar o time do Nacional, no início dos anos 1960.

Com o governador, que também era presidente do Nacional, se limitava a tirar as medidas, fazer as provas e garantir a elegância do homem que gostava de ternos brancos de linho HJ, por coincidência a cor do uniforme do clube da rua Saldanha Marinho

É bom recordar que o uniforme azul, idealizado por Alfredo Barbosa Filho, só passou a ser utilizado a partir de 1963. Antes o Nacional jogava todo de branco, com uma estrela azul bem a altura do peito no lado esquerdo da camisa. Por sugestão de Alfredo Barbosa Filho, a participação de Manoel do Carmo Chaves, o Maneca, e a autorização do presidente, o “mais-querido” passou a vestir azul, com uma águia amarela na camisa, arte projetada pelo professor de desenho Edmilson Salgado, também nacionalino.

Sobre o novo uniforme, vale recordar a participação do professor Manoel do Carmo Chaves. Em 1963, Maneca, que era atleta do clube, foi estudar no Rio de Janeiro. Certo dia, por carta enviada por Barbosa Filho, recebeu a missão de providenciar um orçamento para a confecção de um novo uniforme, na loja Moreira Leite Sport, na rua Senhor dos Passos número 20. Para facilitar as coisas, o governador estava no Rio participando de um Encontro de Governadores, no Hotel Glória. Maneca procurou o homem forte do Amazonas e do Nacional, falou dos planos de Barbosa, e ouviu uma frase para lá de animadora: “vá lá, faça o orçamento e não esqueça de dobrar o pedido”. Mas isso é uma outra história.

Quanto ao paraense de Óbidos, Luiz Farias Martins, que começou a vida trabalhando no setor de fundição da Companhia de Bondes, preparando peças para os postes metálicos e para os bondes, ao lado do amigo Raimundo Alcides, sob a orientação do mestre Bahia, o destino reservaria tarefas mais suaves. Com o mestre Luizão, homem conhecedor dos segredos da alfaiataria, conheceu novos caminhos que o aproximaram do governador. Nas Lojas Seta Para Homens, fazendo bainhas e pequenos ajustes na roupa da clientela, conheceu Celina, irmã de Alfredo Barbosa Filho.

-“Foi a Celina quem me apresentou ao Barbosa. Ele era comandante da Polícia Militar e técnico e diretor do Nacional. Após os primeiros trabalhos para ele, Barbosa me apresentou ao governador, que gostou do meu trabalho. Aí eu passei a ter uma missão especial, que era a de fazer

contatos com bons jogadores de outros clubes para que fossem reforçar o Nacional. Esse assunto de contratações era tratado com o Barbosa, mas o governador sabia de tudo.”

Com habilidade, Luizinho conseguiu levar para o Naça jogadores importantes como Sula, Fredoca, Dermilson, Pretinho. Chegou até tentar levar o goleiro Clóvis, um dos melhores da época, mas a proposta não convenceu. A compensação seria um emprego na Polícia Civil, na época em que a Chefatura de Polícia, o “casarão”, ficava na rua Marechal Deodoro. Clóvis preferiu agradecer e aceitar um convite do técnico Cláudio Coelho para servir ao Rio Negro.

Anos depois, Luiz Farias Martins integrou a diretoria do Nacional. Em 1969, na sua loja Confex, na rua Lobo D`Almada, foram confeccionados os ternos dos jogadores do Nacional, que fizeram bonito no Rio de Janeiro. O Naca venceu o Grêmio Esportivo Maringá, por um a zero com gol de Pepeta. Luizinho realmente teve sua parcela de contribuição para aumentar a coleção de títulos do seu querido Nacional.(Nicolau Libório é Procurador de Justiça, Jornalista e Radialista – [email protected])