
Passei um mês ausente deste espaço, observando como se desenrolava o drama no cenário nacional. Depois da expectativa criada pelas ameaças golpistas, afinal se deu a posse do presidente eleito em 30 de outubro. Houve a subida da rampa e a colocação da faixa, mesmo com a ausência do ex, que, em mais outra manifestação de intolerância e aversão à democracia, preferiu fugir a participar do ritual de transmissão do cargo.
Uma semana se passou e o mundo assistiu incrédulo à maior demonstração do fascismo ativista legado por Bolsonaro. Não dava para a acreditar que eram seres humanos que se entregavam avidamente àquela tarefa destrutiva, invadindo as sedes dos três poderes da república e tripudiando sobre princípios elementares da democracia. Sem resistência, a horda ia levando de roldão o que se lhe punha à frente, simplesmente enlouquecida e sem um objetivo definido.
Claro que houve conivência, pelo menos omissiva, de autoridades, mormente dos militares incumbidos da segurança do presidente da república. É impensável que um bando de malucos, infectados pela doença bolsonarista, invada o principal centro administrativa do país sem que se oponha qualquer repressão. Parecia que estávamos em terra de ninguém, enquanto os ensandecidos fascistas botavam para fora todos os seus complexos e traumas.
Está sendo impecável a resposta que se dá aos tresloucados terroristas. Enquadrá-los nas leis em vigor, assegurando-lhes as garantias constitucionais do devido processo legal, com o contraditório e a ampla defesa. Não poderia ser de outra forma, sob pena de incorrermos no mesmo desvio de visão que se detecta naquele bando.
Fica a lição e ela é muito importante para que não lhe demos a devida atenção: Bolsonaro foi derrotado, mas o bolsonarismo, como doença que é, está longe de ter sido eliminado. Para superar essa moléstia serão necessárias doses maciças de civismo, demonstrando que não se há de tolerar qualquer tentativa de atingir as bases sobre as quais repousa o estado democrático de direito.
Os golpistas, qualquer que seja o seu nível, devem (e vão) receber a reprimenda que lhes cabe, tudo dentro da normalidade democrática, aquela mesma que eles buscam violar, numa contradição inexplicável.
Os democratas temos o dever de duplicar a vigilância, ficando atentos para que qualquer sinal de vida do fascismo seja esmagado no nascedouro. Nós sabemos o quanto custou derrotar a ditadura militar. Pensar em voltar a ela é apenas uma idiotice.(Advogado, Professor, Escritor e Poeta – felix.valois@gmailcom) ´