Para o mundo que eu quero descer – Por Luciana Figueiredo

Advogada Luciana Figueiredo(AM)

Para o mundo que eu quero descer! Mais uma vez fico estarrecida com a
“humanidade”. O ser humano está cada vez mais desumano, isso é terrível.
O conceito de humanidade, segundo o saudoso Aurélio Buarque de Holanda é:
“A natureza humana. Capacidade de compreensão ou de aceitação em relação aos
seus semelhantes”. É sinônimo de clemência, compaixão, beneficência. Mas na
verdade o que vemos é um mundo de pessoas absolutamente egoístas, indiferentes
aos sentimentos alheios, ao mundo a sua volta.

De certa forma já tratei sobre o tema em artigo anterior, mas volto a me
chocar. Como é possível mais de 40 pessoas morrerem em um acidente aéreo na
Rússia, em razão da demora na evacuação? Tudo porque os passageiros que estavam
sentados na frente resolveram contrariar as recomendações de segurança e retirar
seus pertences pessoais antes de sair da aeronave, atrasando a saída dos demais
passageiros. Um absurdo vidas valerem menos que bens materiais.

Parece que quanto mais evoluímos mais regredimos enquanto seres humanos.
Vivemos em um mundo tecnológico, com recursos fantásticos, podemos aproximar
pessoas que estão do outro lado do mundo com apenas um toque. As grandes
distancias hoje acabam sendo reduzidas, mas, curiosamente, quanto mais próximos
estamos, mais distantes ficamos.

Whatsapp, que aplicativo fantástico para afastar as pessoas. Vivemos conectados, respondemos em poucos instantes aos nossos clientes, aos nossos chefes,
mas…e os nossos amigos? “Sinto muito, você está errada.” alguns com certeza irão
dizer. Será? Qual foi a última vez que você, de fato, conversou com um amigo? Não
valem aquelas mensagens engraçadas ou profundas que encaminhamos uma centena
de vezes aos vários grupos que temos.

Gostava muito mais quando pegávamos o telefone e discávamos para aquele
amigo só para jogar conversa fora, para saber como foi o dia, para combinar uma
saída, um cinema, ou apenas para mostrar que estávamos ali, que nos importávamos.
Alias, telefonar hoje, parece invasão! Era tão bom quando ligávamos apenas para dizer
um “Eu te amo”. Hoje mandamos uma mensagem de texto, será a mesma coisa?
Acho que todo esse excesso de modernidade, tantas facilidades, tecnologia,
acabam por retirar uma parte que nos era e devia continuar sendo tão importante.
Aonde foi parar a nossa capacidade de nos envolver? De sentir? De ser humano? Mais
uma vez, quanto mais evoluímos mais regredimos. Vamos voltar a era das cavernas,
com um tacape na mão? Somente o mais forte vai sobreviver?

Nos apegamos a bens materiais, carros, casas, bolsas, celulares, e nos esquecemos do que tem dentro. E nosso interior? Nossos bens mais preciosos, aqueles que não tem preço? Nossas famílias, nossos amigos, nossa palavra? Nosso espírito, nossa alma? Somos falíveis, é certo. Não temos como brilhar todo o tempo, mas brilhamos ou vivemos na escuridão? Seu brilho irradia e consegue alcançar o seu semelhante, seu irmão?

Os animais, tidos como irracionais, hoje nos mostram e ensinam como
deveríamos agir. Quantas e quantas fotos rodam o mundo de cachorros que não se
afastam dos seus donos? O dono faleceu e lá esta o seu “melhor amigo” deitado em
cima do seu túmulo. Vi uma foto de um cachorro ensanguentado e uma ovelha, rosto
com rosto, a legenda dizia que aquele cachorro havia terminado de brigar com lobos. E
quando um cachorro adota gatinhos e vice e versa. São fiéis, leais, “humanos”. Não é à
toa que algumas pessoas preferem seus animais aos homens.

Essa semana li uma decisão judicial de um juiz nosso, Dr. Áldrin Rodrigues, que
me fez acreditar que temos jeito, me deu esperanças. De forma brilhante,
contrariando o entendimento geral, o juiz se colocou no lugar da parte e lhe garantiu o
direito a vida, a ter esperanças. Expôs suas razões de forma tão centrada, clara, lúcida
e ao mesmo tempo sensível, solidária. Fez JUSTIÇA através da aplicação dos princípios
gerais do direito em sua sentença, honrou a cadeira que senta.

São momentos como esse que ainda me fazem acreditar na humanidade, a
pensar que temos salvação, que podemos voltar a sentir, que me permitem continuar
a caminhada. Por mais decisões justas, mais pessoas empatas, mais sentimento, mais
amor e humanidade na terra, sejamos LUZ em meio a tanta escuridão.(Luciana Figueiredo é Advogada)