Passarela da Djalma Batista é palco de suicídio; psiquiatra alerta para sinais da tragédia

Foto: Divulgação

A notícia de que um jovem morreu após se jogar de uma passarela na avenida Djalma Batista na noite desta quarta-feira (27) traz à tona a importante discussão e prevenção ao suicídio. O psiquiatra Luiz Henrique Novaes da Silva explicou ao Portal como identificar sinais de que alguém atentará contra a própria vida. O médico alertou que os quadros de depressão que levam ao suicídio podem ser de origem social e, principalmente, neurológica.

O jovem que se atirou do passarela foi identificado como Luiz Paulo Soares de Araújo. A idade dele não foi divulgada. Nas redes sociais circularam vídeos e mensagens do homem, mas o portal, em respeito à família e sem especular, não fará a divulgação das mesmas. As imagens provocaram muita comoção e choque a quem passava na avenida ontem.

O Corpo de Bombeiros foi acionado para atender a ocorrência às 21h54. Foram empregadas 3 viaturas duas auto bomba tanque (ABT 29 e 31) e um auto rápido (AR 47). Os bombeiros utilizaram um sistema de rapel para a retirada do corpo e entregaram ao Instituto Médico Legal (IML).

A moderna psiquiatria (Sociedade Brasileira de Psiquiatria inclusa), mudou o antigo manual de jornalismo que vetava a publicação de suicídios. Recomenda apenas que a notícia seja acompanhada de conselhos psiquiátricos para evitar novos eventos. Recomendação médica mesmo, como a que este portal está fazendo. Tivemos acesso a fotos e vídeos do corpo dependurado na passarela. Mas, em respeito à família e ao leitor, preferimos não publicar.

Sinais

O primeiro sinal de que alguém pode cometer suicídio, segundo o psiquiatra, é mudança no padrão de comportamento. “A pessoa é muito animada, festiva e, de repente, começa a ficar mais reclusa com um contato social mais discreto e, de certo modo, até desanimada para fazer as coisas”, informou.

Nem sempre a mudança é para um comportamento agressivo e os sinais variam de pessoa para pessoa. “Tem gente, por exemplo, que se preocupa em fazer seguro de vida; pagar as contas e apresentar os comprovantes para a família. O suicídio, em si, é cercado de cuidados. Muitas vezes, a pessoa planeja com antecedência aquilo e começa a atuar de maneira a executar o ato final. Se tem filhos, se preocupa de deixar as coisas para os filhos organizadas; se tem esposa, deixa as coisas organizadas. Às vezes, muda de titularidade o imóvel ou algum outro bem, justamente para evitar conflitos depois da morte”, alertou.

Algumas pessoas também dão sinais por meio das redes sociais, onde fazem discursos. “Seja se despedindo de todo mundo, seja agradecendo a amizade de todo mundo, o que não é necessariamente uma despedida, mas é um ato incomum”, explicou o psiquiatra. Um outro sinal é o uso abusivo de drogas, como cigarro, bebida alcoólica, maconha e cocaína.

“Muitas vezes, a pessoa está usando a droga com o intuito de aliviar alguma emoção ruim que ela sente, e que ela acha que é uma coisa passageira ou uma momentânea, ou que já era para ter passado, mas não passou. Em muitos casos, a pessoa tem um quadro depressivo, de ansiedade, ou outras doenças, como transtorno do humor bipolar, e que muitas vezes perturba a mente – modificando também o comportamento, que acaba culminando na tentativa de suicídio”, afirmou.

Os sinais são subjetivos e variam conforme a faixa etária. Há casos de suicídio entre crianças, por exemplo. “Crianças de quatro a 12 anos de idade, mais ou menos entre 2% e 4% delas, quando têm depressão, cometem suicídio”, disse. “As pessoas costumam dizer que as crianças não sabem o elas querem. Aí, eu pergunto: será que um adulto que comete suicídio sabe o que ele quer? Será que ele tem controle emocional suficiente para evitar a tentativa de suicídio? Por que, a criança, então, teria que ter todo esse controle, toda essa maturidade?”, disse.

Origens

Luiz Henrique Novaes da Silva alertou que há diferença entre problemas de origem psicológica e problemas de origem psiquiátrica. Pessoas que passaram por algum tipo de aflição, como perda de ente querido, separação, demissão ou perda de um processo no qual tiveram prejuízos podem apresentar quadro de depressão de origem emocional. “As pessoas, quando passam por uma situação como essa e depois dali não conseguem ver um retorno à vida normal, emocionalmente falando, tendem a evitar contato, seja pela vergonha, seja pelo medo.

Essa pessoa tende a ficar mais chorosa, mais fragilizada a não interagir mais com as pessoas e, às vezes, pode estar no plano dela, a ideia de tirar a própria vida”, explicou. Esses casos, segundo o psiquiatra representam de 2% a 5% dos que levam ao suicídio. De acordo com ele, 95% das pessoas que cometerem suicídio tinham algum transtorno mental que não foi diagnosticado e tratado. As doenças psiquiátricas alteram o funcionamento do cérebro, independente da vontade da pessoa.

“Os problemas psiquiátricos são doenças de origem neurológica, genéticas, que fazem com que o humor da pessoa, o pensamento dela, o sentimento, o comportamento fiquem alterados sem que haja fatores de estresse no ambiente”, destacou. Como os transtornos psiquiátricos são doenças de base neurológica, o tratamento é feito com medicação. “Via de regra, são os medicamentos antidepressivos, por exemplo, que tratam os quadros de depressão. E tratam muito bem. Quase 90% dos pacientes que se submetem ao tratamento antidepressivo com medicamento saem do quadro, conseguem voltar à sua vida emocional ao normal”, disse.

Convivência

O psiquiatra ressaltou que a convivência entre as pessoas é uma das formas de prevenir o suicídio. A interação de maneira direta sem o uso da mediação feita por meio de mídias sociais é uma recomendação. “Assim, a gente vai efetivamente conhecer, estreitar os laços de amizade com essa pessoa, e ela chegará ao ponto de se sentir confortável e de falar pra gente que ela está angustiada, porque ela passa a confiar mais. É muito difícil ter uma relação de confiança com quem a gente não convive”, disse.(Portal Marcos Santos)