
São por demais conhecidos os elementos que formam um Estado: território, população e governo. Ninguém desconhece que, dentro de um mesmo estado, é possível a existência de várias nações. Já quando se trata de Pátria, seu conceito, por difuso, dificulta um entendimento linear. Houaiss, entre as várias acepções, fornece esta: “local de nascimento de um grupo ou de um fato que interessa a uma coletividade, ou que se destaca pela existência de um grande número de coisas de uma espécie determinada; berço”. Admite, também, que se trata do “país em que se nasce e ao qual se pertence como cidadão; terra, torrão natal”. O certo é que, desprezando academicismos, a noção de Pátria flui mais como um sentimento, traduzindo um amor que, por ser naturalmente abstrato, não se pode definir com precisão.
Tomemos o nosso caso particular. O Brasil, conquanto abrigue diversas nações, inclusive as originárias, é, sem discussão, a Pátria de quantos aqui nasceram e que já chegam a mais de duzentos e vinte milhões de seres humanos. Haver-se-ia de imaginar que essa massa enorme de gente estaria unida em torno da mãe gigante. Ou não nos ensinaram a cantar, desde cedo, que “dos filhos deste solo és mãe gentil, Pátria amada, Brasil”? Tenho como razoável induzir que, então, devemos a ela nada mais, nada menos, que o amor filial. Fugir disso (e é outra das minhas induções) levaria, sem sombra de qualquer dúvida, ao surgimento da execrada figura do “filho ingrato”.
Infelizmente, não é raro ver aparecer, no cotidiano mesmo, alguém que bem encarne tal personagem. A “velha” não é, para esse tipo de gente, nada além de uma reprodutora, de tal sorte que se lhe dispensa um tratamento que não saberia bem mesmo aos animais ditos inferiores. Há os que chegam ao aviltamento mais reles, sendo conhecidos casos de violência física ou de puro e simples abandono. O amor de filho, nesses casos, não consegue ultrapassar o zero, simplesmente porque, na verdade, não existe, nem nunca existiu.
Vamos à mãe-pátria. O mínimo que lhe devemos é lealdade e respeito. Amá-la há que estar tão integrado em nossa formação que não pode figurar como requisito dos dois sentimentos referidos. É uma exigência, diria eu, da própria natureza de quantos estejam dentro dos padrões de normalidade mental.
Mas já vimos distorções na forma de manifestar esse amor. Todos se hão de recordar do deprimente espetáculo de brasileiros ajoelhados na frente de um pneu de caminhão, entoando (que heresia) o hino nacional para o objeto. O pneu, sem nenhuma culpa pela monumental idiotice, quieto estava e quieto ficou, enquanto a turba histérica
se deixava envolver por um misticismo fanático, invocando extraterrestres, por via de celulares igualmente inocentes.
Já vimos, também, as cores de nossa bandeira (e a própria bandeira) serem sequestradas por insanos, que as utilizaram como simples forma de propaganda de uma postura política marcada pelo atraso e pelo obscurantismo. Não eram eles que duvidavam da curvatura da terra e acreditavam piamente que a aplicação de vacina poderia transformar alguém em jacaré?
Tudo isso, porém, pode ser tido à conta de grotescas caricaturas de indivíduos que, sem respeitar a si próprios, não logram manifestar respeito por coisa alguma.
Agora, contudo, o cenário se modificou. Ao fito de supostamente sustentar uma degradada e infame figura política, veem-se casos aberrantes da mais desabrida traição à Pátria. De outra coisa não se trata. Se uma potência estrangeira, qualquer que seja o motivo alegado, ameaça interferir em nossos assuntos internos, o que se põe em risco é a própria soberania nacional. E a Pátria não pode existir sem que seja íntegra e irrestrita essa soberania. Traem a Pátria, pois, todos os que, escudando-se em bobagens retóricas, colocam-se ao lado do Estado agressor e desrespeitador.
Não digo que serão julgados pela História. Seria dar importância excessiva a um grupelho desclassificado de imbecis. Prefiro dizer que os verdadeiros brasileiros devemos permanecer intransigentes na defesa da Pátria e dar aos traidores a singela manifestação do mais altivo desprezo. Afinal, não passam de filhos ingratos.(Felix valois é Advogado, Professor, Escritor e Poeta – [email protected]) – 16.08.25
			
		









