PELÉ: Substantivo e Adjetivo – Por Nicolau Libório

Procurador Nicolau Libório(AM)

Com seu vasto repertório de incríveis jogadas, Pelé não foi e nem será apenas substantivo. Passou a ser desde a muito tempo adjetivo qualificativo. Passou a ser parâmetro de qualidade. Nos gramados ou fora deles o craque dos 1283 gols distingue-se por ser diferente, por ser especial, por ser Pelé. O “Craque Café”, “Pérola Negra” do futebol mundial como era denominado pelo saudoso narrador Waldir Amaral, da Globo, chegou aos 79 anos de vida no último dia 23. Parabéns, palmas para ele. Merece todas as homenagens.

Pelé jogou em Manaus pela primeira vez no estádio da Colina, noite de 9 de agosto de1968, contra o Fast, quando o Santos venceu por três a zero, com gols de Pepe, Pelé e Werneck. O Santos jogou com Cláudio, Wilson, Ramos Delgado, Joel Camargo e Turcão; Douglas e Lima; Manoel Maria, Negreiros (Werneck), Pelé e Pepe. O Fast perdeu com Pedro Brasil, Antônio Piola, Luizinho, Zequinha Piola e Pompeu; Nonato e Santana; Alfredo, Amaro, Edson Piola e Bezerra.

Pelé voltou a jogar em Manaus no dia 11 de agosto, na Colina, quando o Santos venceu o Nacional por dois a um, com gols de Werneck e Pelé, enquanto Pretinho descontou para o campeão amazonense. O Santos jogou com Gilmar, Wilson, Ramos Delgado, Joel Camargo e Turcão; Clodoaldo e Lima; Manoel Maria, Werneck (Amaury), Pelé e Pepe. O Nacional perdeu com Marialvo, Pedro Hamilton, Jonas, Berto e Téo; Mário Motorzinho e Rolinha; Zezé, Rangel (Holanda) Lió e Pretinho.

Lembro do prazer de tê-lo conhecido pessoalmente, entrevistá-lo e de ter tido a oportunidade de constatar que, além das muitas virtudes como o grande craque da bola, o maior ídolo das quatro linhas não havia perdido a condição de ser humano. Um grande ser humano.

Na condição de repórter, entrevistei Pelé por algumas vezes, mas lembro-me com satisfação de dois momentos que marcaram a minha carreira:

O primeiro – o Santos de glórias mil veio a Manaus em 1968 para realizar dois amistosos contra Fast e Nacional. A delegação trazia, além do rei, outros grandes nomes como Gilmar dos Santos Neves (goleiro campeão do mundo na Suécia e no Chile) Clodoaldo e Pepe. Confesso que o meu interesse maior era entrevistar Pelé.

Por volta das 15 horas, o avião eletra da Varig aterrissou no aeroporto Ajuricaba, o famoso Ponta Pelada (hoje aeroporto militar) e todos, torcedores e imprensa, queriam ver e aplaudir a estrela principal.

O desembarque foi iniciado pela porta dianteira, para onde todos os profissionais da crônica se dirigiram. Observei que o ônibus que conduziria a comitiva estava estacionado um pouco distante mas na parte interna, quase na pista de pouso. Fiquei desconfiado e resolvi arriscar, deslocando-me na direção do veículo. Apressei os passos ao mesmo tempo em que percebia que uma segunda escada era colocada na porta traseira da aeronave e, de repente, Pelé descia e entrava no automóvel do presidente da FAF, Flaviano Limongi, para ser conduzido direto ao ônibus e escapar do enorme assédio dos torcedores.

Cheguei na hora certa. Era a minha grande chance. Antes que o motorista acelerasse o veículo para recolher o restante da delegação, lá estava eu diante do grande ídolo. Confesso que temia pela minha ousadia de pretender marcar presença em todos os lugares e momentos. Pelé surpreendeu-me pelo lado positivo. Atendeu-me de forma atenciosa, respondendo pacientemente a todas as perguntas formuladas. Naquele momento ele ajudava um jovem repórter a marcar um gol de placa.

O segundo – a seleção brasileira veio a Manaus em abril de 1970 para o jogo da pré-inauguração do estádio Vivaldo Lima. A delegação ficou hospedada no Centro de Estudos Maromba, no bairro Chapada. Apesar da proibição do técnico Mário Jorge Lobo Zagallo, Pelé falou para mim. Claro que contei com a valiosa ajuda de Andréa Limongi, irmão de Flaviano, que facilitou a minha entrada a fim de que eu colhesse uma mensagem de apoio de Pelé à campanha que era feita pela Fundação Alan Kardek. Foi a segunda entrevista exclusiva concedida a mim por Pelé. Com a mesma simplicidade, a mesma atenção e o mesmo respeito. Pelé sempre foi Dez.

Percebi então que, também, fora de campo Pelé era diferente dos demais. Verifiquei que para ser Pelé era preciso ter a grandeza de caráter e a postura dos grandes cidadãos. Pelé, que chega aos 79 anos, parou de jogar a mais de três décadas, mas a sua fama, o seu prestígio e a sua influência continuam evidentes.

Pelé, que por si só designa a própria substância, é também o adjetivo que sempre qualifica os bons profissionais e as pessoas virtuosas. Feliz daquele que consegue ser Pelé na sua profissão. (Nicolau Libório é Procurador de Justiça, Jornalista e Radialista – nicolauliboriomp@gmail.com)