“Rótulos” – Por Luciana Figueiredo

Advogada Luciana Figueiredo(AM)

Hoje o mundo é rotulado. São rótulos para todos os lados, somos estereotipados por tudo. Li um dia desses uma postagem que dizia: “Sou mãe de uma menina que não precisará ser salva por nenhum príncipe”. Em princípio pode parecer uma matéria legal, e não que não seja, mas qual a razão para, em 2019, ainda achar que as mulheres precisam ou não de príncipes? Porque não deixar que elas escolham? Sim, quero um príncipe na minha vida! Não, sou mais eu, sou uma princesa, sou a rainha do meu destino!

Não sei se no fim vou conseguir me explicar, se serei clara o suficiente. Quem sabe não serei até crucificada por esse texto, uma vez que também vivemos em um mundo intolerante. Se a sua opinião diverge da minha, as discussões acabam tomando proporções excessivamente acaloradas e o respeito pelas diferenças acaba indo embora. Como a declaração de que “meninas usam rosa e meninos azul”, da Ministra Delamaris, essa deu muito o que falar.
Meninas usam rosa, vermelho, azul, um arco íris inteiro, sem que isso tenha o poder de alterar sua essência, quem ela quer e vai ser.

Da mesma forma os meninos. Não podemos criar príncipes e princesas, temos que educar seres humanos, temos que ensinar respeito, amor ao próximo, compaixão, educação. São alicerces que, independente de quem ela ou ele queira ser, vão moldar seu caráter e definir o tipo de pessoa que vamos conviver.

Fui criada para ser a princesa, mas em determinados momentos ser uma “ogra”, matar um dragão, cuidar da casa, lutar de igual para igual no mercado de trabalho e ainda ser filha, mãe, irmã, mulher, companheira e amiga. Ufa, é uma trabalheira só. Óbvio que isso não me impediu de buscar um companheiro, que, longe de ser um príncipe, é um ser humano de carne e osso, com inúmeras qualidades, mas que, como eu, também tem defeitos. Ainda bem que os tem, já pensou como seria chato conviver com uma pessoa perfeita? Quão monótono seria?

O mundo está completamente diferente daquele de nossas avós. Elas eram criadas e educadas para serem as rainhas do lar, organizavam e coordenavam uma casa com uma maestria de fazer inveja, algumas lidavam com vários empregados, educadores dos filhos, professores extracurriculares, e estavam elegantes ao final do dia para esperar, sorridentes, os “provedores do lar” em seu retorno do trabalho. Hoje esse cenário é surreal.

Estamos trabalhando de igual para igual com os homens, ou ao menos assim tentamos, porque a verdade é que ainda existe um certo machismo, mesmo que disfarçado. Lembro de uma ocasião em que um cliente me pediu para não acompanhar uma situação dele porque era perigosa, confesso que achei absurdo, já que ele não havia contratado um homem ou uma mulher, e sim um profissional do direito, no caso uma advogada, para defender seus interesses. Como fiquei frustrada naquele dia. Pois bem, hoje é quase impossível chegar ao final de um dia de trabalho, muitas vezes árduo e estressante e estar em casa, sorridente, aguardando o marido chegar, com um delicioso jantar na mesa.

Também podemos ver muitos homens que trocaram de papel ou partilham o que antes era visto como exclusivamente feminino com suas mulheres. Se dedicam aos filhos, trocam fraldas, dão mamadeiras, levam para escola, fazem compras, dividem o dia a dia do lar em igualdade de condições, fazendo com que a vida diária fique mais leve, mais fácil. São os rótulos caindo por terra, mostrando de forma clara e evidente que a vida está aí para ser vivida, da melhor forma que agradar a cada um, sem preconceitos, sem julgamentos.

O que o ser humano precisa buscar é sua realização pessoal, o que lhe faz feliz, quem lhe faz feliz. Tenha a opção sexual que tiver, escolha a forma como deseja viver, mas, sempre tendo em mente os alicerces básicos que, espera-se, tenha aprendido na mais tenra idade, respeito, amor ao próximo, educação, compaixão. Assim, podemos imaginar viver em um mundo tão melhor, com princesas, príncipes, dragões, policiais, bombeiros, ou qualquer personagem que tenha visitado a nossa imaginação infantil e que um dia pensamos em ser.
Hoje, meu filho mais novo sonha em ser policial.

O mais velho já teve tantas “profissões”, já foi bombeiro, gari, “médico mamãe”, me disse um dia, que bom – pensei eu- vai ser médico, e ele complementou: “que cuida de animais”. Hoje quer ser economista, e, da mesma forma que acontecia quando escolhia uma profissão quando criança, terá todo meu apoio. Sempre disse para eles: você pode ser o que quiser! Mas sempre cobrei educação: “bom dia”, “boa tarde”, “boa noite”, que ajudasse e respeitasse os mais velhos, aquela base que só em casa é possível ensinar, e acho que não me sai tão mal. Educação é a única coisa concreta que podemos deixar e passar para nossos filhos.

Pois bem, vamos acabar com os rótulos, os preconceitos, vamos olhar para o que realmente interessa, a essência do ser humano, é ela que tem que ser admirada, é ela quem amanhã vai mostrar a sua verdadeira face, afinal, príncipes e princesas só existem de fato na imaginação infantil, porque até os príncipes reais tem suas qualidades e defeitos.(Luciana Figueiredo é advogada)