Comovente o desabafo do major Alexandre Matos, coordenador do Centro Integrado de Operações de Segurança – CIOPS, órgão responsável pelo atendimento das chamadas emergenciais feitas através do telefone 190. Segundo ele, pelo menos vinte e cinco por cento das ligações são trotes, sendo que, entre janeiro e fevereiro deste ano, nada menos que quarenta e três mil e quinhentos alarmes falsos foram efetuados. O militar explicitou para a reportagem do DIÁRIO: “os trotes geram muitos prejuízos ao sistema de segurança, desperdiçando horas de trabalho de policiais com deslocamento para atender ocorrências que não existem”.
Fico pensando que o cérebro dos hominídeos, nossos ancestrais que viveram há milhões de anos, haveria de ser bem mais desenvolvido do que o de um mentecapto que, hoje, é capaz de uma atrocidade desse tipo. Fosse vivo o doutor Rogélio Casado, psiquiatra de boa cepa, eu lhe pediria um parecer técnico sobre os sintomas da doença mental que leva alguém a mentir e, o que é pior, a mentir em circunstâncias que colocam em risco toda a comunidade.
Há algum tempo, e tratando especificamente de fato semelhante relativo ao SAMU, tive oportunidade de assim me manifestar: “É incrível que isso aconteça. Há de ser necessário um nível olímpico de abestalhamento para que uma pessoa cometa tolice desse quilate, reveladora da ausência absoluta da noção de cidadania. Ninguém pode viver em sociedade sem observar preceitos elementares de comportamento, entre os quais se inclui, sem sombra de dúvida, a compreensão do que sejam direitos e deveres.
Aqui já escrevi: “Que haja ladrões eu entendo. Se um deles me leva um bem, paciência. A esperança de recuperá-lo é quase zero. Mas ele é ladrão e vive disso. Não posso compreender é quando um idiota utiliza uma chave de fenda ou uma pincha para fazer rabiscos surreais na lataria de um automóvel, exemplificativamente. Ou quando alguns outros, talvez imaginando que praticam arte, danificam o patrimônio alheio com grafite, por via de desenhos de inspiração quase alienígena.
Isto para não falar dos que destroem telefones públicos e bancos de praça, não sendo de esquecer os que se dão à pachorra de passar trotes para o telefone 190, como se o serviço de emergência fosse mero instrumento de satisfação colocado ao dispor de mentes doentias”.
Como se vê, são várias as categorias da espécie. Todos já tivemos oportunidade de presenciar um retardado, no volante de um carro mais ou menos sofisticado, terminar de beber uma cerveja ou um refrigerante e jogar a lata no meio da rua com a maior desfaçatez. Se é que a possui, a genitora do infeliz deveria vir logo no seu encalço para recolher o produto da idiotice e obrigar o seu pimpolho a compreender que, se é dever do poder público recolher o lixo, é do interesse de todos não sujar as ruas.
Outro dia fui passear na Praça da Saudade que, recuperada e com os seus caramanchões, me leva de volta à infância. Nas alamedas, a espaços regulares, existem lixeiras. Apesar disso, havia dezenas de sacos e copos de plástico jogados no meio da grama a qual, assim poluída, não pode servir nem para alimentar o debiloide que praticou a façanha.
O assunto é triste e só permite uma conclusão vulgar. Seria ótimo – convenhamos que seria – se um ente querido do energúmeno que passa trote para o SAMU morresse por falta de atendimento médico, enquanto ele tem prazeres orgásmicos com a brincadeira de mau gosto. Não sei se ótimo, mas justo seria”.
Como se vê, as coisas não mudaram muito. Pelo contrário. Na marchinha de carnaval, o autor ironiza: “E o cordão dos puxa-sacos cada vez aumenta mais”. Temos que acrescentar: e o dos idiotas também, o que, de alguma forma, não deixa de ser redundante, permitindo apenas concluir que puxa-sacos a autores de trote estão todos na mesma categoria de energúmenos.
Aqui da minha insignificância, o único que posso fazer é manifestar minha solidariedade ao major Alexandre Matos e a seus subordinados. Tomara tenham eles paciência para suportar tamanha carga de estupidez e que tenham, igualmente, capacidade de conseguir superar o criminoso desperdício de um quarto de seu trabalho.(Félix Valois é Advogado, Professor, Escritor e Poeta – [email protected])