UM SENADOR INÚTIL – Por Felix Valois

Advogado Felix Valois(AM)

De acordo com nossa ordem jurídica, apenas oitenta e um cidadãos brasileiros, têm condições de ostentar, durante oito anos, o título de Senador da República. Levando em conta que somos duzentos e trinta milhões, convenhamos que é um privilégio e como tal deveria ser tratado tanto pelos que escolhem como pelos que são escolhidos. A eleição para o cargo é direta e majoritária e deveria levar os eleitores a reflexões profundas sobre suas preferências, de tal sorte que os selecionados para integrar a elite legislativa do país estejam à altura da importância e das responsabilidades das funções senatoriais.

Como esse cuidado parece não ter estado presente no pleito de que resultou a ascensão do senhor Plínio Valério, ele retribui o descaso na mesma moeda. Cumprindo, já, o sétimo ano do mandato, o grande feito de Sua Excelência se resume na visita que fez ao presídio onde estavam recolhidos aqueles que, no 8 de janeiro, atentaram violentamente contra a democracia, buscando desestruturar o estado democrático de direito. Solidariedade humana, falou-se. Conversa fiada. Apenas manifestação exacerbada de tendência para o obscurantismo, igualando-se aos fanáticos estúpidos da frente dos quartéis. Para eles, não havia que respeitar o resultado das urnas nas eleições presidenciais, valendo até homicídio e golpe de estado para satisfazer a sede imoderada de poder a qualquer custo.

Vagando qual ectoplasma pelos corredores do Congresso Nacional, incapaz de qualquer ideia que possa redundar em serventia pública, o senhor Valério deliberou optar pelo pior caminho na busca dos holofotes: a agressividade, a ignorância e a falta de educação. A vítima da opção foi a Ministra do Meio Ambiente, doutora Marina Silva. Primeiro, o senador manifestou o mórbido desejo de enforcá-la. Por que não aplicar uma injeção letal? Estaria mais de acordo com a subserviência sempre demonstrada por Sua Excelência a tudo o que é produzido nos Estados Unidos da América, inclusive o Trump. Vê-se que até os “donos da democracia” revelam mais requinte que o nosso representante, mesmo em se tratando de algo tão doentio.

Na mais recente proeza, o senhor Valério se esmerou na tentativa de demonstrar ao mundo a dimensão de sua mediocridade. Estava a ministra a atender convocação do Senado e participava da reunião de uma comissão específica de sua área. Eis senão quando entra em debate a questão do asfaltamento da estrada BR-319. Marina é contra essa proposta, alegando, basicamente, os efeitos maléficos de sua concretização para a floresta amazônica e para questões sociais e econômicas. Se está na posição certa, não tenho competência técnica para dizê-lo. Plínio também não. Acontece que eu, mesmo

não sendo senador, sei reconhecer minha ignorância e não me meter em assunto que não conheço. Mas Plínio é senador e não teve a humildade de dizer que, do assunto, ele entende tanto quanto eu de física nuclear. Vai daí que, como o pescoço da ministra ainda estava no lugar e ela sustentou seu ponto de vista, Valério, num rasgo de sabedoria socrática e eloquência condoreira, saiu-se com esta preciosidade: “Respeito a mulher, mas não a ministra”.1.05

Vai ser difícil que tamanha estupidez venha um dia a ser igualada. A um só tempo, foram desconsideradas normas primárias de boa educação e de decoro parlamentar. Um bate-boca de botequim haveria de ter conotação ética mais elevada. Até o Judite, o gato da minha filha Lucíola, observou que ministra e mulher são indissociáveis (como o é o binômio homem/ministro), de tal maneira que a ofensa não pode ser cindida a gosto do ofensor.

Que desperdício operou o meu Estado ao conferir mandato tão importante a esse senhor! Por favor, senador Valério, veja se Vossa Excelência consegue parir pelo menos um projeto que preste. Um projetinho de nada, que seja! Algo, por exemplo, do tipo: “Fica proibido aos energúmenos de todos os gêneros disputar cargos públicos”. Já será alguma coisa. O Amazonas lhe agradecerá e Vossa Excelência deixará de ser considerado a inutilidade mais custosa ao erário desde que se implantou a República.(Felix Valois é Advogado, Professor, Escritor e Poeta – [email protected]) – 31.05.25)