VALDOMIRO CHEGOU PARA FICAR – Por Nicolau Libório

Procurador Nicolau Liborio(AM)

No dia 24 de agosto de 1969, na preliminar do jogo Brasil e Venezuela, no Maracanã, pelas eliminatórias da Copa do Mundo de 1970, Valdomiro vestia a camisa azul do Nacional, no amistoso em que o campeão amazonense vencia o Grêmio Esportivo Maringá pelo placar de um zero, com um belo gol do ponteiro esquerdo Pepeta. O tempo passou, muitas pessoas passaram, poucos são os que lembram disso, mas vale a pena dizer que o garoto itacoatiarense garantiu o registro do seu nome na história do futebol amazonense. Valdomiro agora é saudade, deixou este mundo na última quarta-feira, após cumprir a sua missão terrena.

Depois de mostrar talento em Itacoatiara, onde nasceu, vestindo as camisas do Rio Negro, Penarol e Botafogo, Valdomiro chegou em Manaus em 1967, para defender o América de Amadeu Teixeira. O irmão do também ex-zagueiro Valdir Lima não teve grandes dificuldades para se firmar como titular.

Aliás, o América é que tinha dificuldade para mantê-lo. E não deu outra porque, de repente, o caboclinho da Velha Serpa, portando um bilhete de Haroldo Gomes, sobrinho do desembargador Joaquim Paulino Gomes, presidente do Nacional, chegava até a presença do diretor Alfredo Barbosa Filho.

Chegou quieto como quem não quer nada, querendo, mas de imediato passou a criar preocupações ao grandalhão Berto, titular da posição. Berto era festejado pela torcida, enquanto Valdomiro era apenas um ilustre desconhecido, mas cheio de paciência e esperanças.

As oportunidades foram surgindo e logo diante de adversários respeitáveis: seleção olímpica do Brasil, Clube do Remo e Paysandu. Deu conta do recado, jogando com muita segurança e grande personalidade. Entretanto, Berto, cheio de prestígio, mantinha-se como o dono da posição.

No início de 1969, uma semana após o carnaval, quando menos esperava, veio a oportunidade para firmar-se definitivamente como titular da zaga. No final de um treinamento coletivo, no campo da Vila Municipal, Berto envolveu-se num bate-boca com atacante Lió. Berto, cheio de valentia, desafiou o baiano louro para um duelo. Para os outros jogadores tudo não passava de discussão sem causa e consequência. O caldo ferveu e derramou.

A inconseqüente proposta, por mais absurda que pudesse parecer, foi aceita. Alguns jogadores resolveram acompanhar a dupla para assistir ao espetáculo que prometia fortes emoções. Alguns queriam evitar, mas a bobagem terminou acontecendo. O bang-bang foi acontecer na estrada Manaus-Itacoatiara, onde os dois briguentos, armados de revólveres, resolveram trocar tiros. Bala pra lá, bala pra cá, Lió levou um tiro na barriga. Foi o fim de carreira para os dois, que foram dispensados do clube. Lió passou por uma cirurgia, passou alguns dias numa cama de hospital, enquanto Berto teve que enfrentar um indiciamento em inquérito policial.

Valdomiro, que não tinha nada a ver com isso, passou a ser o dono absoluto da posição, formando dupla com o experiente Sula. A partir daí o tímido Valdomiro ganhou merecido espaço no coração dos nacionalinos. Sobretudo pelas eficientes atuações.

Ao voltar do Rio de Janeiro, em agosto de 1969, por exemplo, nas comemorações pela vitória do Nacional sobre Grêmio Esportivo Maringá, no gramado do Maracanã, sentiu o prazer de ser reconhecido como um dos ídolos de uma torcida apaixonada. Pelas suas virtudes técnicas, ganhou vaga na seleção principal do Amazonas que enfrentou a seleção brasileira de Pelé, em 1970, na pré-inauguração do estádio Vivaldo Lima.

Os antigos nacionalinos não esquecem daquele time talentoso do Nacional: Marialvo, Pedro Hamilton, Sula, Valdomiro e Téo; Mário Motorzinho e Rolinha; Zezé, Rangel, Pretinho e Pepeta.(Nicolau Libório é Procurador de Justiça, Jornalista e Radialista – nicolauliboriomp@gmail.com)