A AMAZÔNIA E A POLÍTICA – Por Felix Valois

Advogado Felix Valois(AM)

Meus amigos Gino e Magela Ranciaro foram passar férias no paraíso que é Alter do Chão e mais uma vez voltaram maravilhados com o espetáculo da natureza, proporcionado pelo Rio Tapajós. Uma nota de tristeza, porém, lhes toldou a alegria: era possível ver claramente nódoas cinzentas no verde esmeralda com que aquele rio nos encanta os olhos. O responsável pelas manchas é o garimpo de ouro que campeia desenfreado pela região. Tamanha é a ousadia dos que, legal ou ilegalmente, se dedicam a tal atividade, que, em Manaus, helicópteros do IBAMA foram queimados, como forma de protesto a qualquer tipo de fiscalização que busque controlar a atuação predatória.

Arrevesado, como sempre, o governo Bolsonaro, em lugar de encarar a situação e estabelecer uma política pública para o assunto, preferiu expedir decretos paliativos. Um deles alude a uma coisa impossível no plano fático: garimpo artesanal. Sabendo-se da complexidade que envolve a garimpagem, a exigir maquinaria especializada e de grande porte, chega a parecer brincadeira imaginar-se que o trabalho, nesse campo específico, se possa desenvolver como o labor de um artesão.

Aqui, no Amazonas, só o deputado Serafim Corrêa, em discurso na Assembleia Legislativa, ergueu a voz contra o absurdo. É lamentável ver como a defesa da Amazônia não se mostra prioritária nos arraiais da política. Nossa floresta vem sendo de forma sistemática dizimada pelos incêndios que a ela se ateiam, sem que o Presidente, que tanta macheza arrota a plenos pulmões, adote uma providência, por mínima que seja, para confrontar esse crime de lesa humanidade. Muito pelo contrário. Aliado ao agronegócio, regular ou irregular, Sua Excelência tem olhos de cego e ouvidos de mercador para o problema que o país enfrenta.

Defender a Amazônia, pugnando por seu desenvolvimento autossustentável, não é uma questão de opção. Trata-se, antes disso, de uma questão de sobrevivência desta e, principalmente, das futuras gerações. Se, como dizia Gláuber Rocha, “o sertão vai virar mar e o mar virar sertão”, nem por isso devemos assumir uma postura de acomodação diante daquilo que os fatalistas entendem como inevitável.

Com a maior bacia hidrográfica do mundo, não dá para acreditar que não tenhamos um mecanismo de transporte fluvial, de cargas e passageiros, capaz de compensar a carência de ferrovias e rodovias. No setor, tudo é feito amadoristicamente, dependendo as iniciativas da vontade de alguns poucos e corajosos empresários, que decidem, por conta própria, encarar o descaso do poder público. Aí estão os “recreios” em que só os nativos, por força da falta de opções, são capazes do milagre de encontrar

um lugar onde possam estender suas redes para enfrentar dias e/ou horas de viagens que nada têm de recreativas.

Na indústria da pesca, a coisa se repete. Deveríamos consumir o peixe mais barato do mundo, mas, por falta de uma política séria, vemos uma banda de tambaqui ser vendida por preço exorbitante, assim como se fosse uma posta de bacalhau importada da Noruega. O pirarucu, meu peixe predileto, diga-se de passagem, chega aos mercados e feiras por valores que desafiam o salário mínimo e tornam quase impossível desfrutar a delícia que é saborear um “pirarucu de casaca”, iguaria em que minha mulher tem até doutorado.

Amo minha terra. Disso ninguém pode nem ousa duvidar. Queria, portanto, que este texto fosse lido como uma canção de amor a ela e como uma advertência para os que dela não gostam ou a tratam com pouco caso. A Amazônia, patrimônio da Humanidade, continua brasileira e a “pátria amada” tem o dever de lhe tributar as mais calorosas manifestações de respeito.(Felix Valois é Advogado, Professor, Escritor, Poeta – felix.valois@gmail.com)