A GUERRA – Por Felix Valois

Advogado Felix Valois(AM)

Quando eu nasci, lá pelos idos de 1943, o mundo estava em guerra, a qual só teria fim dois anos depois. Nada posso falar, portanto, dos efeitos indiretos que o conflito possa ter tido lá pelas margens do igarapé de São Raimundo. Não hão de ter sido agradáveis, mesmo considerando a remota localização, tendo em vista o caráter global do embate. Não creio, por exemplo, que a carência de energia elétrica, crônica na época e na região, possa ser tida à conta de consequência da guerra. Longe disso. Tratava-se mais de uma questão de atraso puro e simples. Já tive, aliás, a oportunidade de dizer que havia, ali e então, uma superposição de tempos: embora estivesse em curso o século 20, eram bem visíveis resquícios do medievo, inclusive e principalmente na questão religiosa.

De lá a esta data, ouvi falar de inúmeras outras guerras. A voo de pássaro, lembro da guerra do Iraque, da guerra da Coreia, da guerra do Golfo. Todas elas insanas, desnecessárias e brutais. Agora, vem a Rússia de invadir a Ucrânia e a história se repete. Lá se vão perder vidas, destruir famílias, gerar a miséria e a fome. À guisa de justificativa, invocam-se supostas razões de ordem geopolítica e até mesmo históricas, tudo no afã de encontrar razões para o que não parece nem um pouco razoável.

As questões ideológicas não estão fora do contexto, mesmo no cenário de pós guerra fria. Foram muito fortes as tensões decorrentes da divisão do mundo entre União Soviética e Estados Unidos para que desaparecessem ao longo dos trinta e um anos decorridos desde o desfazimento do bloco soviético. Tanto é verdade que os analistas, nestas primeiras horas do novo enfrentamento, não podem deixar de colocar em lados opostos do confronto e diretamente interessados o grupo da OTAN e a própria Rússia.

Seja como for, é tudo lamentável. Parece que a única coisa a esperar é que o imbróglio não se expanda para o resto do mundo, porque, como é trivial, com armamentos nucleares, a guerra dispensa soldados e não escolhe vítimas. Mas um toque irônico ao qual não me posso furtar: os Estados Unidos esbravejam contra a atitude russa, assim como se tivessem moral para criticar algum país por empreender invasões em terra alheia. Todos farinha do mesmo saco.

Mas o certo é que não importa o lado de onde provenha. Qualquer guerra será sempre um comportamento insano e haverão de falhar todas as tentativas de buscar embasamento teórico capaz de justifica-la.

Vem a pelo a citação que me foi encaminhada hoje por meu amigo Petrônio Carvalho, delegado aposentado. Diz o seguinte: “A Guerra é um lugar onde jovens, que não se conhecem e não se odeiam, se matam, por decisões de velhos que se

conhecem e se odeiam, mas não se matam.” O autor, que eu não conheço, é Erich Hartman, o qual, nessa síntese admirável, bem conseguiu traduzir o sentimento de todas as pessoas normais.

Sossegado na minha insignificância só posso manifestar antecipadamente a minha tristeza, a par da minha solidariedade a todos aqueles que, não importa o posicionamento, tenham de enfrentar a perda de familiares. A dor há de ser cruel e não seria a pena sem talento deste escriba que poderia tentar descrevê-la. Só que eu vejo ainda mais distante o mundo com que sempre sonhei e que eu pensava pudesse legar aos meus netos: um mundo em que os homens manifestem respeito e amizade reciprocamente, de tal forma que, unidos, possam viver num ambiente de fraternidade.

É sonho. Mas eu continuo sonhando.

(Felix valois é Advogado, Professor, Escritor e Poeta – felix.valois@gmail.com)