Amadeu Teixeira e o América – Por Nicolau Libório

Procurador Nicolau Libório(AM)

Se vivo estivesse, Amadeu Teixeira, que nasceu no dia 30 de junho de 1926, estaria completando 93 anos de vida, neste domingo. O técnico recordista de permanência no comando de uma equipe de futebol deixou este mundo aos 91 anos, no dia 7 de novembro de 2017, merecendo a homenagem de ter o seu nome a identificar o ginásio poliesportivo ao lado da Arena da Amazônia. Sua carreira começou em 1956, com a saída de Cláudio Coelho, do comando técnico do América, ficando fora apenas por um breve tempo, em 1972, quando foi chamado a dirigir o time da Associação Atlética Rodoviária.

A vida de Amadeu Teixeira se confunde com a vida do América, porque ele foi um dos fundadores, em companhia de seu irmão Artur e dos amigos Ilmar Oliveira, Wilson Guimarães, Leontino, Taiguara Rebelo, José Augusto e outros, na noite de 2 de agosto de 1939. Na época Amadeu Teixeira Alves tinha apenas 13 anos e uma grande paixão pelo futebol. A fundação do América contou com o estímulo do Padre Severo, diretor da Liga de Futebol do Dom Bosco, colégio em que Amadeu, seu irmão Artur, e os demais fundadores eram alunos.

Conheço a história porque sempre nutri forte admiração pelo trabalho de Amadeu. Lembro, por exemplo, que exatamente no mês de julho de 1965, conheci o técnico que à época ostentava um recorde de permanência no cargo. Fiz um amigo e dele ouvi vários relatos, alguns agradáveis, outros nem tanto. O mais desagradável: o governador Leopoldo Neves doou um terreno ao América que pretendia construir sua sede no local onde hoje está erguido o prédio do Hospital Getúlio Vargas, mas Plínio Ramos Coelho, dirigente maior do Estado a partir de 1955, segundo Amadeu, acabou com o sonho ao determinar a desapropriação. Amadeu e Artur Teixeira bem que tentaram dialogar, mas Plínio não mudou de ideia e o América ficou no prejuízo.

Outra decepção: a perda do Parque Amazonense, local onde eram disputados jogos da divisão principal. Como arrendatário, desde a década de 1960, o América poderia explorar o pequeno estádio, antes hipódromo, pertencente a Maçonaria, por um determinado tempo, pagando uma certa quantia mensal, com possibilidade de se tornar proprietário. Recebeu grande ajuda de Flaviano Limongi, fundador e presidente da FAF, para a restauração das gerais e arquibancadas e tudo ia de vento em popa. Mas a inauguração do estádio Vivaldo Lima mudou tudo, pois o velho Parque deixou de ser utilizado nos principais jogos. Sem condições de honrar o pagamento do aluguel, após o jogo Rio Negro e Rodoviária, em 1973, o Parque Amazonense fechou para sempre. Foi vendido ao a um certo empresário, que passou adiante o imóvel e, lamentavelmente, hoje só resta a lembrança da praça de esportes que, em 1972 , chegou a servir de palco para um show do cantor Roberto Carlos.

Durante o tempo em que teve o Parque Amazonense à disposição do América, Amadeu criou nada menos que quinze equipes de futebol infantil, de onde saíram

alguns jogadores que posteriormente serviram para reforçar as equipes principais. O futebol feminino no Amazonas foi outra ideia sua, promovendo no dia 6 de janeiro de 1969 uma apresentação das talentosas meninas em uma preliminar de um jogo de duas equipes profissionais. Repetiu a dose com grande sucesso, mas logo a seguir foi impedido de dar seqüência ao seu trabalho. O Conselho Nacional de Desportos entendia, em obediência a uma lei preconceituosa, impediu a continuação do belo trabalho, concordando que, futebol era coisa de homem.

O América nasceu pobre, permaneceu pobre e, por isso, sempre teve que resolver seus problemas com muita criatividade. Por exemplo: Amadeu possuía um caminhão tanque, no qual transportava e vendia querosene. O famoso à época querosene Jacaré. Nos dias de jogos não era nenhuma novidade a delegação americana chegar “acomodada” no velho veículo do treinador. E ninguém reclamava de nada. Pelo contrário, abastecidos de ânimo, os jogadores superavam todas as dificuldades com bom humor e disposição para correr os 90 minutos.

Amadeu bem que tentou ser jogador mas nunca passou de um limitado meia direita do segundo quadro. Por essa razão decidiu ajudar seu clube de outra maneira, passando a assessorar o treinador principal. E foi com a saída de Cláudio Coelho, técnico que levou o América ao tetracampeonato em 1951, 1952, 1953 e 1954, que aprendeu os segredos do ofício. Com paciência, dedicação e muito entusiasmo, revelou centenas de jogadores, destacando-se o goleiro Marialvo que no final dos anos 1960 foi um dos grandes ídolos da torcida do Nacional e do Fast, e João Tavares, zagueiro de estilo elegante, que terminou a carreira no Payssandu, do Pará.

No América o velho Amadeu foi praticamente tudo: técnico, roupeiro, diretor de futebol, diretor social, porteiro e só não foi massagista por falta de vocação. Como técnico, seguia seus instintos. Para ele, o bom jogador é aquele que se posiciona bem dentro de campo, dribla com inteligência, pratica o jogo solidário e sabe ser disciplinado, nos gramados e na vida.

O América que nasceu na Praça Dom Bosco, abrigou-se no porão do comércio da família Teixeira, num sobrado na rua da Instalação, depois na rua Silva Ramos ao lado da fábrica de sabão Tuchaua {já extinta} e posteriormente na casa do fundador, no bairro Parque 10 de Novembro, sobreviveu por amor e teimosia. Amadeu Teixeira, que aos 91 anos deixou este mundo, foi um exemplo de dedicação e amor pelo esporte.(Nicolau Libório é Procurador de Justiça, Jornalista e Radialista – [email protected])