Baixa adesão à 3ª dose da vacina contra Covid preocupa especialistas

Foto: Adesão a terceira dose/Destaques

Exaustão é o sentimento predominante entre os brasileiros depois de dois anos de pandemia de covid-19. Após período de queda, o país apresenta nova alta nos casos da doença. Os registros subiram em janeiro, com a maior circulação de pessoas nas festas de fim de ano. Depois, reduziram, em março, e agora voltaram a crescer.

Um dos motivos apontados por especialistas é a flexibilização dos cuidados, o abandono no uso da máscara e a falta de aderência à terceira dose. Todos os fatores acendem um alerta para a possibilidade de uma nova onda da doença.

A quarta dose da vacina está disponível para parte da população. Mesmo tendo 77% das pessoas com duas doses da vacina, o Brasil ainda desliza quando o assunto é a terceira. A dose de reforço não atingiu sequer 50% da população adulta. Na faixa etária dos 18 aos 24 anos, apenas 30% das pessoas tomaram a terceira dose, segundo dados do Ministério da Saúde e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O professor do Departamento de Biologia Celular do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de Brasília (UnB) Bergmann Morais Ribeiro ressalta que não tomar a dose de reforço prejudica a proteção.

“A vacina induz uma proteção ao vírus de poucos meses. Então, em seis meses você tem uma diminuição dos anticorpos, e pode ser reinfectado. Nesses inúmeros casos de reinfecção também estão incluídas pessoas que já foram vacinadas”, alertou.

Eliseu Waldman, professor do Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), cita que o relaxamento das medidas é a causa do aumento das infecções. “A chegada do inverno e o relaxamento das medidas de prevenção poderão contribuir para o recrudescimento da covid-19. A flexibilização decorre, em parte, pela exaustão da população e também por recomendações das autoridades e das empresas.”

Uso de máscara

Em março deste ano, o governo de São Paulo liberou o uso de máscaras em locais fechados. Outros estados também afrouxaram as medidas, como o Distrito Federal, Santa Catarina, Mato Grosso e Rondônia. Essa flexibilização passou a ideia para a população de que o vírus deixou de circular e que a pandemia chegou ao fim.

“As pessoas acham que a pandemia já acabou e que pode andar na rua sem máscara, sem problema nenhum. Os vírus não param de infectar as pessoas, porque possuem uma taxa de mutação muito alta e começa a escapar da defesa do corpo”, detalhou Ribeiro.

Bergmann Morais apontou que o Brasil tem enfrentado a falta de dados dos casos de covid-19. Principalmente, porque parte da população tem recorrido ao autoteste vendido em farmácias, oficialmente permitido no Brasil pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

“O problema maior dos testes feitos em casa é não reportar caso tenha dado positivo. O Ministério da Saúde não fica sabendo quantas pessoas estão infectadas. Quem compra o teste deveria ser obrigado a informar em um aplicativo de celular ou avisar ao estabelecimento que vendeu. A gente está no escuro sobre a circulação do vírus.”

O cenário atrapalha o acompanhamento do desempenho da doença. “Uma forma de contornar a subnotificação é de maneira educativa. Orientar as pessoas para que notifiquem o resultado. Isso pode ser feito por campanhas dentro das farmácias, ou na própria embalagem do autoteste”, argumentou o infectologista Hemerson Luz.

Novas cepas

As mutações do vírus são um processo natural e já conhecido. Elas ocorrem quando há descontrole na pandemia e os níveis de transmissão estão altos, como é o caso do Brasil. Uma nova mutação não gera uma nova doença, mas produz outra variante do vírus.

“A vacina é feita apenas a partir de uma proteína, que é a spike, e o vírus tem 30 proteínas. Pode ocorrer de necessitarmos de uma vacina totalmente diferente porque ela não vai mais proteger contra a mutação. Ainda não surgiu aquela variante que escapa totalmente à vacinação, mas isso é totalmente possível”, explica Morais.

Além do aumento de casos de covid-19, já chega a 20 o número de capitais com tendência de aumento nos casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), segundo o Boletim Infogripe divulgado na última quinta-feira, pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). O relatório informa que há sinal de aumento dos casos de covid-19 em todas as regiões do país.

A Síndrome Respiratória Aguda Grave pode ser causada pelo SARS-CoV-2 e vem sendo monitorada como parâmetro para acompanhar a pandemia desde 2020. “O ideal é que todas as pessoas que tenham sintomas respiratórios sugestivos de gripe como dor de cabeça, dor de garganta, coriza, nariz entupido tosse ou com presença de febre ou não, devem procurar o atendimento médico para um diagnóstico diferencial. O isolamento é primordial para evitar a disseminação dessas doenças respiratórias transmitidas por gotículas”, concluiu Luz.(Portal Marcos Santos)