Barbosa Filho – Por Nicolau Libório

PJ Nicolau Libório(AM)

Alfredo Barbosa Filho, nome que identifica o centro de treinamentos do Nacional Futebol Clube, foi um homem que realmente viveu os momentos de glórias e de dificuldades do seu clube. Desde a época em que a sede era na rua Saldanha Marinho e reunia, todos os dias, grande número de jovens, que desejavam uma oportunidade de treinar no time do Coronel. Como treinador, falando o essencial, o gordo Barbosa, cabelo estilo militar, usando óculos de lentes grossas, passou a integrar a história do futebol amazonense porque fazia o que gostava. Sua paixão pelo esporte surgiu ainda na infância, em Humaitá, onde nasceu, mas foi em Manaus, em 1947, dirigindo a equipe de futebol da firma J.G. Araújo que começou sua grande coleção de títulos.

Barbosa Filho surgiu para o esporte amazonense em 1946, quando tinha 26 anos, como árbitro da Federação Amazonense de Desportos Atléticos, onde também exerceu a função de secretário. Foi treinador da equipe juvenil do Olympico em 1950, onde foi campeão. Entrou para o Nacional em 1952 a convite do presidente Laércio Miranda. Foi bicampeão como treinador da equipe infanto-juvenil em 1952-53. Pelo time juvenil foi campeão nos anos de 1953, 1961, 1964, 1965, 1966, 1970, 1971, 1977, 1978, 1979, 1980 e 1981. Pelo time dente-de-leite, foi campeão em 1968 e pelo time de aspirantes, em 1955. Conquistou títulos no comando da equipe profissional, inclusive em 1969, no auge do futebol amazonense. Comandou a equipe principal por inúmeras vezes, onde faturou títulos importantes na fase do amadorismo. Foi o tranquilo Barbosão que experimentou, como treinador, o sabor de uma grande vitória, no gramado do Maracanã, quando o Nacional venceu o Grêmio Maringá por um a zero e, no retorno, os jogadores desfilaram pelas ruas de Manaus em um caminhão do Corpo de Bombeiros. Sob os aplausos da multidão.

Pessoas influentes na política, no magistério, na administração pública, na medicina, na comunicação, na advocacia foram, no passado, pupilos de Barbosa Filho. Apenas para exemplificar, porque a lista é infindável, podemos citar: professor Maneca, que já foi deputado estadual, grande astro do futebol de campo e salão; Adérito, professor universitário; Vasconcelos, Edson, que era conhecido por Timba e Nestor Arnaud, coronéis da Polícia Militar; Vanderlan Vieira, conceituado advogado; Valdir Correia, valente zagueiro, grande nome do rádio; Carlos Bessa, ex-deputado ; Francisco Malheiros, médico que dedica parte do seu tempo ao esporte; Edson Sarkis, outro destacado nome da medicina amazonense; Bosco Spener, professor de educação física; Flexa, Gadelha, Heraldo, Quisso, Pila , Holanda e muita gente que ajudou a construir a invejável história do clube mais querido do Amazonas.

Em 1954, quando Barbosa ainda exercia a atividade de professor (lecionava Merceologia) no curso técnico de comércio no Colégio Dom Bosco, além de História, Geografia e Matemática nos cursos de contabilidade, foi convidado pelo Coronel Neper Alencar para ingressar na Polícia Militar. Aprovado em concurso, Barbosa foi nomeado pelo governador Álvaro Maia, pegando a patente de segundo tenente, que já trazia do Exército. Na Polícia Militar, ficou mais de 9 anos e ainda como segundo tenente foi comissionado por Plínio Coêlho, governador da época, para comandar a instituição como coronel, cargo que exerceu durante um ano e meio.

Em 1964, antes do governador Plínio Coelho ter sido cassado pela revolução de 1964, Barbosa pediu demissão da Polícia Militar e foi nomeado para o cargo de Fiscal de Vendas e Consignações. Nesse mesmo ano foi alcançado pela revolução, porque fora nomeado por Plínio Coêlho. No governo já estava Artur César Ferreira Reis. Em 1980, foi beneficiado pela Lei de Anistia, adquiriu a condição de aposentado e os dezesseis anos que passou desempregado lhes foram computados

Depois de sofrer grande reviravolta na vida, dedicou-se apenas ao esporte. Com o apoio do desembargador Joaquim Paulino Gomes, presidente do Nacional, foi chamado a ocupar seu tempo dentro do clube. Passou a ser responsável pelos times das divisões básicas revelando, com o seu paciente e dedicado trabalho, jogadores importantes que chegaram ao time profissional. Por tanta dedicação, Barbosa mereceu o diploma “Personalidade do Futebol Brasileiro”, concedido pela Enciclopédia do Futebol Brasileiro.

Um fato jamais foi esquecido pelo treinador. Tarde de sol, Parque Amazonense lotado, clima realmente de festa. O time juvenil do Nacional partia para o ataque com todo gás. O centroavante entra na área do adversário, o Rio Negro, e leva uma tremenda sarrafada, mas o árbitro Euclides Serra, que estava no lance, mas não queria assumir sozinho a responsabilidade, preferiu consultar o bandeirinha. Cochichos e mais cochichos e, para surpresa de todos, resolve marcar falta fora da área. Ai o caldo entornou. Um jogador do Nacional correu para pular com os dois pés no peito do bandeirinha. O bandeira, esperto, tirou o corpo e quem levou a pior foi um soldado da Polícia Militar, que se postava à margem do campo. O tempo fechou. Brigou todo mundo, jogadores, policiais, alguns torcedores, enfim, foi briga para mais de cinco minutos. Quem bateu mais ou quem apanhou menos ninguém soube informar.

A verdade é que o governador do Estado, à época Plínio Ramos Coêlho, que também era presidente do Nacional, ficou indignado e resolveu intervir. Chamou Barbosa Filho, que além de técnico do Nacional era o comandante da Polícia Militar, e ordenou: recolha todo esse pessoal (os soldados) ao quartel até segunda ordem. Com muita calma, coronel Barbosa Filho conseguiu contornar a situação e os soldados escaparam da punição.

Poucos, na história do Nacional, foram tão úteis ao clube como Barbosa Filho. Cuidava da parte burocrática, gerenciava o departamento de futebol, auxiliava os demais setores, e, quando havia necessidade, sobretudo nos momentos de crise, sempre estava disponível para assumir o comando técnico da equipe profissional.(Nicolau Libório é Procurador de Justiça, Jornalista e Radialista – nicolaulibó[email protected])