Conservador, multicultural, seguro e acolhedor, Catar aposta na Copa 2022 para se abrir para o mundo

Uma visão do Catar/Foto: Alberto Esteves(EFE)

Conservador, multicultural, acolhedor e seguro. Assim é o Catar, um pequeno país de contrastes, com menos de 3 milhões de habitantes, dos quais 80% são estrangeiros e que, em pouco mais de uma semana, receberá a Copa do Mundo, sua grande aposta para se abrir para o planeta e demonstrar sua surpreendente evolução.

O torneio de futebol, sem dúvida, é um dos mais polêmicos da história, tanto pelos casos de corrupção na Fifa, que envolvem a escolha do país como sede, quanto pelas condições trabalhistas de operários migrantes nas obras dos estádios e de outras estruturas, assim como pela desigualdade entre homens e mulheres e pela censura ao coletivo LGBTQIA+.

“Acho que houve muitas perguntas e muito debate sobre esses assuntos, mas quero tranquilizar as pessoas. Sim, o Catar é um país conservador, é um país de pudores. As restrições às pessoas e à forma como vivem não são tão grandes como fazem acreditar”, afirmou à Agência EFE o diretor-executivo do comitê organizador local, Nasser Al-Khater.

Trata-se de um país com normas culturais e religiosas identitárias. Em geral, é recomendado vestir-se cobrindo os ombros e até abaixo dos joelhos. Está restrito o consumo de álcool, não são bem-vindas as demonstrações de afeto entre casais e é melhor não ficar tirando fotos de pessoas sem autorização.

Além disso, cuspir na rua ou jogar lixo no chão são atos punidos com multas, e há tolerância zero com o consumo de drogas.

“A demonstração pública de afeto não é algo a que estamos acostumados aqui. Os homens e as mulheres podem dar as mãos, podem se abraçar, ocasionalmente. Mas, você sabe, para ir mais além, devem entender que as pessoas podem olhar ou dizer algo”, afirmou Al-Khater.

“As pessoas que entendem a cultura virão aqui e a respeitarão. Somos muito acolhedores e hospitaleiros”, complementou o dirigente.

O país é o segundo do mundo com maior porcentagem de imigrantes entre a população, com pessoas de quase 200 nacionalidades que vivem nele. A região metropolitana de Doha é um autêntico caldeirão multicultural de 2 milhões de habitantes, ultramoderna e centro econômico do país.

“Temos muitos europeus, americanos, sul-americanos, pessoas da Ásia. Vivem aqui e se sentem confortáveis. Enxergam o Catar como um dos países mais seguros do mundo, o mais seguro do mundo árabe. Em geral, estão aqui porque tudo é positivo em termos de liberdade. As pessoas virão e verão que quase todo esse debate foi em vão”, garantiu Al-Khater.

A primeira coisa que chama atenção na chegada ao Catar é a sensação de estar em um país novo. Todas as ruas, infraestruturas, transportes ou prédios aparentam perfeição. O planejamento em termos de sustentabilidade é brilhante, como, por exemplo, a “smart city” Msheireb, com edifícios de design inovador.

É um local que deixou de ser uma aldeia de pescadores para se tornar um país próspero, impulsionado pelo petróleo e pelo gás natural, voltado agora ao desenvolvimento do turismo e da educação, seus principais pilares de crescimento, com a Catar Foundation como bandeira.

Conseguir se tornar sede de uma Copa do Mundo acabou sendo a cereja do bolo.

“Para nós, é mais do que futebol. De fato, faz parte do nosso Plano de Desenvolvimento Nacional 2030. A Copa do Mundo é um catalisador para avançar com esse plano, e garantimos que tudo está preparado para organizar um dos espetáculos mais importantes do planeta”, afirmou Fatma Al-Nuaimi, diretora de comunicação do comitê local.

A organização da Copa do Mundo espera que o torneio atraia cerca de 2 milhões de visitantes, o que fez acelerar o planejamento de renovação de infraestruturas, com um investimento que girou em torno dos 200 bilhões de dólares e que é tratado como legado para o país e para a população.

Nas obras, diversas organizações de defesa dos direitos humanos denunciaram abusos contra operários migrantes, falta de pagamento de salário ou condições extremas, que chegaram a causar mortes — críticas e denúncias que o país responde com a adoção de medidas “em tempo recorde” para acabar com os problemas.

Entre elas estão a aprovação de um salário mínimo no país e a “abolição” do sistema de patrocínio, que amarra os funcionários aos interesses dos empregadores.

“As pessoas podem encontrar e ler muitos artigos desinformados sobre o Catar, mas teremos mais de 1 milhão de torcedores que virão e vão provar por eles mesmos. Este será um dos legados mais verdadeiros que teremos neste evento. As pessoas mudarão a percepção e, então, poderão emitir um juízo próprio”, disse Al-Nuaimi.

A organização preparou tudo para o Mundial, com gastronomia, cultura e atividades específicas para mostrar ao mundo seu potencial.

“Temos um plano para garantirmos que os fãs conheçam um novo sabor, uma nova música, novos pratos. Algo novo para eles. E será o modo de enriquecer sua experiência, será o que levarão quando voltarem para casa”, prometeu Al-Nuaimi.

Informações importantes

A península do Catar tem superfície de 11,5 quilômetros quadrados, formada por ilhas, áreas de preservação, 563 quilômetros de costa e deserto, com cerca de 1.800 quilômetros quadrados de dunas brancas.

O clima é desértico, mas, no inverno, quando acontecerá a Copa do Mundo, a temperatura é moderada, e varia de 15 a 30 graus.

O idioma oficial é o árabe, mas o inglês é muito difundido. A religião é o islamismo, e a lei que impera é a sharia, com normas de proteção baseadas em interpretações do Corão e da Suna (ensinamentos do profeta Maomé).

A semana de trabalho vai de domingo a quinta-feira, e a sexta-feira e o sábado compõem o fim de semana.

Às sextas, bancos e outros serviços fecham as portas, e alguns estabelecimentos interrompem o funcionamento para a oração do meio-dia.

Durante a Copa do Mundo, as escolas entrarão em férias de 20 de novembro até 22 de dezembro, para reduzir o trânsito durante a competição e permitir que os estudantes acompanhem os jogos.

O emir é o chefe de Estado: Tamim bin Hamad al-Thani ocupa o cargo desde 2013, quando o pai dele, Hamad bin Khalifa Al-Thani, abdicou, após 17 anos de reinado.

O poder da família remonta às tribos do início do século 18. Trata-se de um país relativamente jovem, com uma primeira Constituição promulgada em 1972, após a independência do império britânico.(R7 Brasília)