DOIS GOVERNOS – Por Felix Valois

Advogado Felix Valois(AM)

Passamos tanto tempo na anormalidade que a ocorrência do normal nos está causando espanto. Assim foi que vi muita gente elogiando o comportamento do presidente Lula, em comparecendo ao local onde ocorreu a tragédia, em São Paulo, como se isso fosse uma coisa extraordinária. Ora, ele não fez nada além daquilo que lhe impõe o cargo que exerce, de forma que isso deveria ser encarado como o trivial. Acontece, porém, que o seu antecessor, brutamontes de quatro costados, ao enfrentar situações semelhantes, preferiu ir passear de jet ski ou participar de show no parque temático Beto Carreira. Vem daí, pois, a razão para a estranheza com o gesto do atual presidente.

Dá-se, na verdade, que são tão grandes as diferenças entre os dois governos que parece tarefa simples estabelecer as devidas comparações e as conclusões sobre quem está sendo melhor. A questão ambiental é, talvez, a que mais se preste para esse tipo de confronto. De cara, enfrentamos o massacre que se estava realizando contra o povo indígena ianomâmi. Foi tão grave e irresponsável o comportamento do governo anterior que uma nação inteira estava prestes a desaparecer pelo singelo motivo de que não se estava alimentando corretamente e porque lhe faltava assistência básica no que se refere à saúde. Paralelamente a isso, tolerava-se e até se incentivava a conduta do garimpo predador, para o qual só o lucro imediato tem importância, pouco se lhe dando das consequências humanas e ambientais.

Tudo mudou drasticamente. O atual presidente foi pessoalmente ao local onde vive aquele povo e pôde constatar a dimensão de seu sofrimento e de como a desídia governamental teve direta participação na configuração do cenário. Medidas para enfrentar e resolver o problema foram imediatamente tomadas, inclusive com a convocação das forças armadas para o trabalho de transportar e distribuir alimentos. Resgata-se uma dívida de campanha e se restabelece o mínimo de dignidade para sobrevivência dos ianomâmis.

A política externa é outro ponto em que avultam as marcantes distinções entre os dois governos. Bolsonaro é grosso e mal educado e essas duas “qualidades” estavam sempre presentes quando se tratava do relacionamento com outros chefes de Estado. Chegava, por vezes, à ofensa pura e simples que de outra coisa não pode ser chamado o que ele fez no encontro com o presidente da França e sua esposa. De outras feitas, traduzia uma subserviência acachapante como a relevada no trato com seu colega fascista Donald Trump.

A consequência foi óbvia: o Brasil passou a ser gradativamente afastado do eixo onde se tomam as grandes decisões da política mundial, sendo tratado, ao contrário, como uma simples e reles república de bananas. Começa lentamente a se desfazer essa calamidade. Em tom sereno mas firme, volta-se ao diálogo com as grandes potências, exigindo-se respeito às respectivas soberanias.

Vive-se uma nova vida. O medo e o ódio estão sendo gradativamente banidos do cenário nacional, voltando-se o povo para a rotina do dia-a-dia de um estado democrático de direito. Respeitam-se as leis e, por isso mesmo, não pode haver tolerância com aqueles, de qualquer nível, que intentem quebrar a normalidade das instituições.

Já não se fala em golpe. A democracia venceu. Ainda bem.(felix.valois@gmail.com)