Dos beiradões à escola: violência na infância é retratada em espetáculo teatral

FOTO: Hamyle Nobre

Nas beiradas de rios, nos garimpos, na rua, na escola e até dentro de casa. A violência na infância está em todas partes, muitas vezes veladas por rostos e situações familiares. O tema delicado e urgente conduz o roteiro de “Alice Músculo +2”, espetáculo teatral da Bodó Company que abre temporada nos próximos três finais de semana em Manaus (AM).

Com novo elenco, a nova temporada é uma remontagem de 2019 e fica em cartaz às sextas, nos dias 6,16 e 22/07; e aos sábados, nos dias 9,16 e 23/7 sempre às 20h, no espaço cultural Ateliê 23 (avenida Tapajós, 166, Centro). O ingresso é R$15 (meia entrada). “Tivemos um processo árduo de corpo, de voz, com preparação de Babaya Morais, conhecida nacionalmente”, comenta o ator e diretor executivo Denis Carvalho, que Carvalho destaca que o momento é especial pela retomada aos palcos e das atividades da companhia, que, nos últimos dois anos, adaptou os projetos para exibir em plataformas digitais.

É a partir da história de Alice, uma menina pequena, mas com força de gente-castanheira que decide sozinha mudar o rumo da sua própria história, que a peça é contada. O espetáculo traz ainda um tema polêmico, especialmente no interior do Amazonas, que é a ausência e a irresponsabilidade da paternidade, sendo acobertada até mesmo por crenças populares. Um exemplo é a lenda amazônica do boto cor-de-rosa, em que um boto se transforma em um homem belo e sedutor, seduz mulheres para engravidá-las e, depois, volta para a forma animal e para o rio, o que gera o abandono dessas mulheres grávidas. “Na realidade, ele acaba sendo um ‘boto expiatório’, que leva a culpa do pai, do tio, do homem de poder para justificar a violência que eles praticam”, afirma Francis Madson, diretor e dramaturgo da montagem.

“Alice Músculo + 2’ é a terceira peça da ‘Tetralogia da Família’ ribeirinha da Soufflé de Bodó Company. “Entre os assuntos dessas peças temos a identidade cultural, social e econômica da região, as desigualdades sociais, a natureza, os animais e os sujeitos, vivendo de forma singular suas histórias”, destaca Francis Madson.

A ficha técnica conta ainda com as atrizes Isabela Catão, Amanda Magaiver e Neuriza Figueira, escultura de Davi Baima, preparação de elenco de Viviane Palandi e pesquisa e sonoplastia de Diogo Navia. Francis Madson assina figurino e cenografia, enquanto a produção executiva é de Denis Carvalho.

Soufflé de Bodó

No cenário manauense desde 2013, a companhia é uma união de artistas com experiência na criação, direção e atuação, que se juntam para realizar espetáculos de teatro que tenham como foco o homem amazônico e dramaturgias autorais.

Entre os trabalhos realizados pelo grupo estão “Casa de Franciscos”, “Quem Nasce Antônio é Rei”, “Herói”, “Dragão de Macarapana”, “Curuminzado”, “Mãe – In Loco”, “Remontagem”, “Banho de Cavalo”, “Curta Metragem” e “Alice Músculo +2”.

A Soufflé de Bodó cria e executa eventos culturais na cidade de Manaus. Durante o período de isolamento da pandemia, o grupo realizou festivais e espetáculos on-line, além de desenvolver projetos de circulação, entre eles “Coma Teatro” e o Jandira Theater Move, o primeiro teatro container itinerante da região norte, com 22 lugares.