Guilherme Nery – Por Nicolau Libório

Procurador Nicolau Libório (AM)

Constantino, Silvério, Júlio e Paulo foram nomes marcantes na política amazonense, mas Guilherme Pinto Nery, filho do engenheiro Abílio Nery e de dona Deulinda, irmão de Débora, Pery, Adelina e do ex-governador Paulo Nery também tem o seu nome registrado na história do Amazonas.

Guilherme Nery, formado em Educação Física pela Escola Nacional do Rio de Janeiro e, também, em agronomia, foi educador, administrador, foi um símbolo de dedicação e amor pelas boas causas do esporte. Jogou voleibol, basquetebol, futebol, competiu em regatas, foi destaque no atletismo, disputou natação e, no ringue, poucos ousaram desafiá-lo. E quem cometeu tal imprudência arrependeu-se da sorte. Agraciado com inúmeras medalhas por mérito na área da educação, foi Secretário de Educação do Estado e professor da Universidade do Amazonas.

Sob a tênue luz dos lampiões, nas folgas concedidas por dona Deulinda, em determinadas ocasiões da semana, as gostosas peladas começavam às 7 e se prolongavam até às 9 da noite. O campo improvisado na calçada de pedras da rua Isabel, era delimitado entre as ruas José Paranaguá e Quintino Bocaiúva. Despreocupados com a vida, os meninos Paulo, Guilherme Nery, Ismar, Clóvis, Moura Costa, Mário Ypiranga Monteiro, Deusdete Figueiredo, Muraid Said, José, Paulo Amorim e outros não deixavam por menos. Disputavam as jogadas com disposição. Aliás, Guilherme não admitia moleza. Não gostava de perder e ficava furioso quando alguém fazia corpo mole.

Conversei pela última vez com o professor Guilherme Nery, em outubro de 1983, na época em que ele exercia o cargo de diretor-presidente da Fundação Dr. Thomaz. Dele, numa manhã chuvosa, ouvi muitas histórias interessantes. Falando do seu passado, ele demonstrava entusiasmo. Sobre a infância, recordava que a criação da época era bem severa. Havia limite para tudo. Mas mesmo assim, ele e sua turma empinavam papagaio, jogavam bola e, em determinadas tardes, num monte de serragem lá na serraria Vilas Boas, faziam a corrida de casco de tartaruga. Na época, havia muitos quelônios e todos em Manaus podiam saborear um bom sarapatel sem o menor remorso.

No futebol gostava de ser centroavante do tipo goleador, enquanto seu irmão Paulo Nery, mais habilidoso, atuava como ponta de lança, armando as jogadas, nos amistosos que eram disputados no Nerylândia, local onde depois funcionou a boate Shangri-la e, posteriormente, foi construído o Conjunto dos Jornalistas, na avenida Constantino Nery..

Guilherme que foi aluno do Ginásio Amazonense Pedro II, onde anos depois foi professor e diretor, trabalhou como conferente de carga na Manaus Harbour, de onde saiu para ser professor de educação física em 1940, nomeado pelo interventor Álvaro Maia. Adepto do culturismo desde os 14 anos, estimulado pelo mestre Orlandino Barcelar, transformou-se rapidamente num dos grandes nomes do jiu-jitsu. E, contra a vontade do pai, disputou sua primeira luta oficial contra o campeão peruano, Manoel Ribas, peso médio, no palco do Cine Teatro Alcazar, posteriormente Cine Guarany. Foi a disputa entre

o boxe e o jiu-jitsu, quando venceu tranqüilamente. Em outra ocasião, estimulado pelos amigos Flávio de Castro e Josué Cláudio de Souza, enfrentou o famoso lutador Gato Selvagem, campeão paraense e campeão do Norte. O tal felino já havia batido em João Isack e Metralhadora, dois grandes lutadores locais e chegou a afirmar que se perdesse em Manaus, vestiria saia. A luta que foi realizada no palco da Rádio Difusora, na rua Silva Ramos onde era realizada a Festa da mocidade, terminou em nocaute técnico, com a vitória de Guilherme. Se o tal Gato Selvagem vestiu saia como prometera, ninguém sabe informar, mas que ele apanhou, apanhou. E muito, isso muitos viram.

Guilherme que foi o autor do anteprojeto para a criação da Escola de Educação Física da Universidade do Amazonas, sempre foi fanático por esporte. No esboço de seu livro “Traços Históricos da Educação Física do Amazonas”, Guilherme recorda a fundação da Academia Nery, que era localizada na rua Luiz Antony n° 50, que reuniu destacados nomes da sociedade amazonense, tais como Mário Verçosa, Jaime e Jorge Tribuzzi, Sílvio Tapajós, Ari Navarro, Jari Botelho, Platão, Marco Aurélio e João Bosco Araújo, João Lúcio Cavalcante, Jorge Grosso, Carrel Benevides, Josué Filho, Roberto Gesta, Iraúna, Itauna Jacó e os irmãos Mário, Moisés e Alberto Sabbá.

No Ginásio Pedro II, juntamente com irmão Paulo, Milton Marques (do cartório), Zé Lima, Raimundo Batista, Valdir Garcia, Carvalho Leal e outros, integrou o time do Castelo, que no basquete e no voleibol era praticamente imbatível. Campeão de levantamento de peso, vice-campeão de remo, medalhas no basquete, vôlei e pólo aquático, muitas vitórias nos ringues, o professor Guilherme Pinto Nery era o próprio símbolo do atleta vencedor. Uma história que merece ser lembrada. (Nicolau Libório é Procurador de Justiça, Jornalista e Radialista – [email protected])