JOSÉ PAIVA – Por Felix Valois

Advogado Felix Valois(AM)

Na semana passada, morreu o meu amigo José Paiva Filho. Foi uma perda muito sentida para a advocacia amazonense. Foi um dos profissionais mais competentes e éticos que já conheci. Em sua memória, reproduzo texto que fiz publicar ainda no ano de 2011. Eis aí:

Esta semana tive um encontro profissional com o doutor José Paiva de Souza Filho. As recordações afloraram. Afinal, conhecemo-nos há muito mais de quarenta anos. Na década de sessenta do último século, frequentávamos ambos a velha e querida Jaqueira da Praça dos Remédios, na busca do inevitável diploma de bacharel em direito, espécie de passaporte para os que, pobres como nós, buscavam um lugar ao sol na implacável sociedade de ricos. Duros, mas agradáveis, tempos.

Nossos professores eram catedráticos da melhor estirpe. Não estava ainda implantada a tirania dos títulos em que hoje se debate a comunidade acadêmica. Mestrados e doutorados não integravam a linha de preocupação. Muito menos pós-doutorado (que diabo será isso? Deve ser alguém que vem depois do doutor, como indica o prefixo. Para fazer o quê, é que não se sabe). Voltando ao assunto: eram catedráticos porque simplesmente se inscreviam em concurso público, defendiam uma tese e pronto. Talvez por isso não transigiam com o ensino e o aprendizado.

Fazíamos política estudantil. Livres e ousados até 64. Ousados e reprimidos depois do golpe de 1º de abril, a partir de quando pensar passou a ser crime gravíssimo, apenado com a tortura e a execração, além do castigo acessório de impedimento de acesso a qualquer função pública. Duros, e não agradáveis, tempos. Principalmente para nós que, desde cedo, fomos seduzidos pela lógica escorreita do marxismo-leninismo e, sob os cuidados do inesquecível Geraldo Campelo, integrávamos as organizações de base do Partido Comunista Brasileiro, depois, muito depois, travestido em PFL da esquerda, ou, e talvez pior, em abrigo de trotskistas deslumbrados e personalistas.

Saímos bacharéis. Como todo mundo, aliás, na irônica reflexão do saudoso professor Sebastião Norões. Paiva mergulhou no direito do trabalho, desde a época em que o judiciário desse ramo era integrado pelas bizarras figuras dos juízes classistas, herança marcante do populismo getulista. Tornou-se o meu amigo um dos mais respeitados juslaboralistas do Amazonas. Época houve em que ninguém ousava pensar em direito do trabalho sem obter a aquiescência de Paiva, Luís Bezerra de

Menezes e Francisco Alves dos Santos, duas outras figuras de inexcedíveis qualidades, infelizmente já fora de nosso convívio.

Já se vê que conversar com Paiva foi um refrigério. E um alento, também. Paiva pode e deve ser utilizado como paradigma de como se forma, de como se é e de como se comporta um advogado na verdadeira acepção do termo. O conhecimento jurídico é indispensável. Mas está longe de ser a única ou a principal exigência. Ser honesto e nunca, jamais, transigir com os preceitos da ética, geral e profissional, estes sim são requisitos que não podem faltar. José Paiva nos ensina tudo isso. A OAB do Amazonas já o teve como presidente por dois mandatos. Belos e gloriosos tempos. E Paiva aí continua, quase pedindo para servir de espelho para as novas gerações.

Muito obrigado, velho camarada, pelo exemplo.(Felix Valois é Advogado, Professor, Escritor e Poeta – felix.valois@gmail.com)