Manaus e Belém mais próximas da fase final da pandemia entre 6 capitais da Amazônia

Paciente em alta/Foto>Ingrid Anne

Entre as seis capitais que compõem a bacia amazônica, Manaus e Belém estariam mais próximas de avançarem para a fase final da pandemia do novo coronavírus. Essa é a conclusão do boletim Nº 11 do Atlas ODS Amazônia, produzido por pesquisadores que atuam na Universidade Federal do Amazonas (Ufam). De acordo com o Atlas ODS, a explicação pode estar no fato de as duas capitais terem tido maiores índices de isolamento, por mais tempo e antes das outras quatro capitais avaliadas: Porto Velho, Boa Vista, Rio Branco e Macapá.

Os pesquisadores aplicaram o modelo logístico para a curva de óbitos para avaliar e comparar as seis capitais da bacia amazônica. “Observou-se que em relação à data estimada para o alcance de 97% dos registros estimados, Manaus e Belém estariam em mesma posição, ou seja, a 6 dias de alcançar esse registro. Isso as coloca em situação de serem as primeiras, dentre as 6 capitais, a avançarem para uma próxima fase da pandemia”, afirma o boletim. As outras quatro capitais estariam ainda em fases mais iniciais da pandemia. O caso mais acentuado seria o de Porto Velho. Veja as comparações nos quadros abaixo:

Projeções de óbitos

A partir do modelo logístico, os pesquisadores também fizeram previsões sobre o número total de óbitos esperados e que corresponde à assíntota (limite) da curva. “Nota-se que esses valores, como esperado, são proporcionais à variação de população total entre as capitais analisadas”, escreveram. Manaus e Belém – onde a população é superior a 1,4 milhões de habitantes – atingiriam valores acima de 1,5 mil óbitos, segundo o boletim. Conforme os pesquisadores, Belém poderá alcançar a maior taxa de mortalidade estimada de 116 óbitos por 100 mil habitantes, seguida de Porto Velho com uma taxa de 99 óbitos por 100 mil habitantes. De acordo com as projeções, as menores taxas esperadas são as de Boa Vista e Macapá, com taxas em torno de 48 óbitos por 100 mil habitantes.

O boletim destacou que, embora Manaus e Belém estejam em fases semelhantes, a capital paraense já registra um maior número de óbitos na comparação com a capital do Amazonas. Neste caso, os pesquisadores analisaram dados do último sábado (12 de junho). Veja a figura abaixo: As duas cidades apresentaram números bem superiores aos das demais capitais. “Nota-se ainda, a menor inclinação da curva dessas capitais, indicando a baixa velocidade de óbitos registrada nos últimos dias nessas duas maiores metrópoles regionais”, reforça o boletim, reiterando a previsão de que as duas capitais avançarão primeiro para a fase final da pandemia. Veja o quadro abaixo:

Controle da pandemia Na avaliação dos pesquisadores da Ufam, se o modelo logístico estiver corretamente ajustado para a curva de cada um dos municípios examinados, as projeções feitas até o marco de 97% dos óbitos previstos indicam que Boa Vista, Macapá, Rio Branco e Porto Velho serão as últimas capitais localizadas na bacia amazônica a controlarem a pandemia, nessa ordem. De acordo com os cientistas, as razões para isso podem estar ligadas a vários fatores. Um deles pode ser a diferença na data de início da transmissão comunitária nessas capitais.

“A aceleração da transmissão começou primeiro em Manaus; 4 dias após, em Belém e Rio Branco, depois em Macapá após 6 dias e, finalmente, em Porto Velho, em 8 dias após o início em Manaus. Porém, essas pequenas diferenças em dias não seriam suficientes para explicar o fato de em Porto Velho a curva de óbitos ainda não ter atingido sequer o ponto de inflexão, previsto para 18 de junho”, afirmam, no boletim. Isolamento social De acordo com o Atlas ODS Amazonas, outro componente que pode determinar as diferenças do comportamento da pandemia nas capitais são as respostas das populações ao isolamento social.

Até a terceira semana de março, segundo os pesquisadores, as cidades mostram o mesmo padrão, com maiores picos na penúltima semana daquele mês, lideradas por Rio Branco e Porto Velho. Depois desse período, as capitais passaram a mostrar diferentes comportamentos. “Em maio, Boa Vista, sempre com o menor índice, teve o mesmo padrão de variações que Porto Velho e Rio Branco. Esta última capital sempre com maiores índices de isolamento, mesmo em períodos anteriores ao da pandemia, dentre as capitais mais ocidentais”, diz o boletim. Conforme os pesquisadores, Manaus despontou ao apresentar a maior extensão de altos índices de isolamento em relação às demais capitas ao longo das três primeiras semanas do mês de abril. “A partir daí e durante o mês de maio foi Belém que liderou esse ranking”, afirmam.

Na avaliação deles, esses dois longos períodos de isolamento podem ter feito com que as duas capitais tenham conseguido avançar para as fases tardias da pandemia antes que as demais capitais, e Manaus antes que Belém. De acordo com a análise, em Macapá, o pico de maior isolamento, ocorrido em maio, foi bastante efêmero e seguido de um declínio acentuado. No entanto, de acordo com os pesquisadores há quedas acentuadas no isolamento social a partir da segunda quinzena de maio, sendo a mais drástica em Belém, que chegou a registrar o pior desempenho do grupo nestas primeiras semanas de junho. “Porto Velho tem o segundo pior desempenho no grupo, muito provavelmente devido ao fato de a municipalidade em seu Decreto n. 16.629/2020 (https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=393092) ter determinado o retorno de diversas atividades dentro do período de 23 de abril a 04 de maio”, avaliam. Eles dizem acreditar que a considerável melhora neste mês de junho decorre do decreto do governo estadual que, “pela primeira vez, adotou medidas mais rigorosas de isolamento social naquela capital”.

Os pesquisadores avaliam que apesar de ter tido uma resposta precoce, Porto Velho talvez tenha sido igualmente precoce em determinar a reabertura das atividades não essenciais ainda no mês de abril, o que determinou que a curva de casos e óbitos siga acelerada e muito distante da fase final. “Não por acaso, é a única capital da região que já teve que reverter suas medidas de reabertura das atividades não essenciais”, afirmam. O Atlas ODS Amazonas lembra que Belém tornou mais rigorosas as medidas de isolamento com o decreto municipal de lockdown – fechamento total – Nº 96.253 que vigorou entre 07 a 17 de maio.

“Depois desse período, o isolamento decaia a níveis bem inferiores”, destacam. Manaus e Belém seguiram no mesmo ritmo, quando propuseram a reabertura escalonada a partir de 1º de junho, avaliam os pesquisadores. “Entretanto, observa-se que em nenhuma das capitais, até a data avaliada, os níveis de isolamento social haviam baixado ao ponto de retornarem aos níveis observados antes dos registros dos primeiros casos ou antes das medidas de isolamento social terem entrado em vigor”, diz o boletim. Implica dizer que muitas pessoas ainda mantém isolamento social, mesmo nas capitais que já deram início à reabertura gradual da economia.

Fonte: Portal do Marcos Santos