O artista que expôs em varal no beiradão e há sete anos faz sucesso na Europa

...antes tudo começou num varal/Foto>Divulgação

Freyzer Andrade, de 33 anos, sonhou em se tornar artista e dar uma vida melhor para a mãe. Morava na comunidade da Boca da Valéria, na Serra de Parintins, divisa do Amazonas com o Pará. O local é ponto de visitação dos navios de turistas em cruzeiro internacional. Por mais de dez anos, ele pendurava os quadros em barbantes para vender aos gringos. Até que uma companhia o convidou para expor, num cruzeiro de Porto Rico para a Europa. Hoje, Freyzer mora há sete anos em Oviedo, nas Astúrias, Espanha, e foi artista de estrelas, contratado três anos pela Victoria’s Secrets, desde 2017.

“Tudo o que sempre sonhei foi dar uma vida melhor para minha mãe. Ano passado, após longa temporada fora, a levei para passear por Grécia, Italia, Turquia, Espanha, Malta, Portugal, entre outros países. Foi um momento de muita felicidade, pois cumpri uma promessa a ela, de que um dia me tornaria um artista e que a levaria para conhecer lugares que ela sonhava”, conta. Freyzer é autodidata. Aprendeu a pintar e, em seguida, a falar inglês nos navios de cruzeiro que aportavam na Valéria. Entrou na Escola de Artes do Caprichoso, Padre Miguel de Pascoalle, aos 16 anos, aprimorando as técnicas.

Trajetória

O artista parintinense, para atrair a atenção dos turistas, pintava a natureza que tinha ao redor. Pássaros no esplendor da plumagem brotavam dos varais e encantavam os gringos. Depois, numa virada mais intimista, se dedicou aos rostos de mulheres. “Sou fascinado pela beleza feminina”, confessa.

Hoje, entre os brasileiros de maior sucesso no exterior, Freyzer fica oito meses na Europa e apenas o restante no Brasil. “Fico a bordo de navios de cruzeiros por todo o mundo. Tive o privilégio de estar em 84 países, tudo através do meu trabalho”, comemora. “Cada uma das minhas obras oferece um ponto de entrada para variedade e riqueza que estão por baixo de cada rosto que encontramos na vida. A mistura de técnicas, entre gêneros, é uma característica do meu trabalho em várias mídias, todas com sobreposição visível”, descreve.

“Minhas pinturas começam com linhas abstratas e faixas de cores que estabelecem uma base para a imagem, subsequentemente sobreposta, de um rosto ou busto – na maioria dos casos representados por modelos. Para mim, a mulher simboliza a identidade híbrida, dentro de um contexto que reflete a construção desintegradora, em nosso mundo cada vez mais globalizado. Meu trabalho é carregado com precedentes históricos e estéticos, claramente focado no diálogo entre abstrato, figurativo e o expressivo”, analisa. Orgulho das origens

Freyzer Andrade fala com orgulho da casa, onde nasceu e morava com a mãe e avós, na Boca da Valéria, onde eles ainda estão. Relata também com muita ênfase os dez anos expondo nos varais, feitos com barbantes, na margem do rio Amazonas. “Sempre acreditei que meu trabalho era bom e que estar expondo meus quadros na beira do rio, em comunidade pequena, era questão de tempo”, diz. Quando recebeu o convite para o cruzeiro até a Europa, partindo de Porto Rico, havia um obstáculo: as despesas da viagem correriam por sua conta. “Vendi o que eu tinha e fui apenas com o dinheiro da passagem. Fiquei três dias em Porto Rico. O que me ajudou muito a não ficar perdido é que eu já falava inglês”, resume.

O prefeito de Parintins, Bi Garcia, tem um auto-retrato feito por Freyzer na parede. E encomendou do artista um auto-retrato do governador Wilson Lima para presenteá-lo, quando passou o aniversário na cidade. Nesses sete anos morando na Europa, o artista ganhou seguidores internacionais e espalhou obras por Mônaco, Grécia, EUA e Noruega. Ele foi informado que estará numa das edições da prestigiada ReVista: Harvard Review of Latin America. A publicação ocorre três vezes por ano e se concentra em diferentes temas relacionados à América Latina. O objetivo é destacar o trabalho do corpo docente de Harvard, estudantes, ex-alunos e Visiting Scholars. A instituição-matriz da ReVista é o David Rockefeller Center de Estudos Latino-Americanos de Harvard. Em fevereiro, a renomada pesquisadora canadense Tommie Sue entrou em contato com a assessoria do artista para comunicá-lo e solicitar autorização para incluir a trajetória do amazonense, ao redor do mundo, na revista.

Fonte: Portal Marcos Santos