OITENTA ANOS – Por Felix Valois

Advogado Felix Valois(AM)

No dia em que fiz aniversário, disse as seguintes palavras aos que compareceram:

“Chego aos oitenta. Não é historicamente justo. Meu pai, que era um homem muitas vezes melhor do que eu, morreu aos sessenta. Mas, como não busquei essa prorrogação, o jeito é vivê-la tão bem quanto permitam os achaques inevitáveis nesta fase que algum cretino, num surto de humor negro, chamou de “melhor idade”.

Uma ova que é a melhor. A lepidez e as empolgações da juventude não têm preço e são, elas sim, inigualáveis. “Mas – diz um interlocutor querendo ser gentil – a experiência acumulada não é de grande valia?” Grande coisa! De que adianta ter experiência se, no mais das vezes, não é possível fazer uso dela.

Entretanto, se me perguntarem se foi ruim chegar a esta idade, responderei que não. E explico: mesmo com todos os erros que cometi (e não foram poucos), consegui manter unida minha família. Minha companheira que nunca me faltou. Meus filhos, sem os quais não haveria esta festa. E os meus netos com cuja companhia volto a ser jovem para poder desfrutá-los.

Quero, com tudo isso, significar que não vejo os oitenta nem como prêmio, nem como castigo. Apenas um fato. Os meus amigos, mesmo os que não lograram sobreviver à pandemia, sempre foram testemunhas de que minha lealdade e dedicação não sofreram mudanças significativas com o tempo. Permaneceram iguais, já que não consigo vislumbrar amizade mesmo sem essas duas qualificadoras.

Tenho plena consciência de que este pode ser um inverno definitivo, sem uma primavera que o suceda. Fazer o quê? Não dá para mudar a natureza, como enfatizaria com muito orgulho o conselheiro Acácio. Se assim for, paciência. Até quando der, vou caminhando com a consciência tranquila de que nunca me afastei dos meus princípios: a defesa da mais irrestrita solidariedade entre os seres humanos, que, por serem iguais entre si, hão de caminhar sempre rumo à felicidade.

Muito obrigado a todos os que aqui vieram. Suas presenças me confortam e me fazem lembrar do velho ditado: mais vale ter amigos na praça, do que dinheiro na caixa. Até porque dinheiro é coisa que eu não tenho mesmo.”

Não havia muito mais coisa a dizer, senão já seria um discurso e continuo firme no entendimento de que mais chato que discurso só cerimônia religiosa e enterro. Mas valeu a pena o encontro promovido pelos filhos. Estiveram presentes até o Boi Caprichoso e seus brincantes, enquanto, de outro lado, a voz cativante de Márcia Siqueira encantava a todos, com o acompanhamento de Rinaldo Buzaglo, Mauro Lippi e Casqueta.

Óbvio que não haverá outros oitenta. Estes já soam como excepcionalidade. Também não é dado saber o tempo remanescente. Qualquer tentativa de saber seria pura especulação. Resta, pois, aproveitar o que sobra, revendo os erros para não voltar a cometê-los e, em as havendo, aperfeiçoar as virtudes.

Os velhos temos as obrigações da paciência e do comediomento. São exigências naturais. Sem elas não conseguiríamos suportar o peso da idade.(Felix Valois é Advogado, Professor, Escritor e Poeta – felix.valois@gmail.com)

– Parabéns, COMPANHEIRO!!! (Editoria)