OS TÍTULOS DO OLYMPICO – Por Nicolau Libório

Procurador Nicolau Liborio(AM)

Foi em um sábado de carnaval de 1968, em uma noite em que uma chuva fina afastou muitos torcedores do estádio da Colina, que o Olympico Club ganhou o seu terceiro título de campeão amazonense. A conquista correspondia ao certame de 1967 e tinha um sabor muito especial, pelo fato da equipe estar retornando às atividades futebolísticas.

Uma semana antes, no mesmo gramado do estádio Gilberto Mestrinho, hoje Ismael Benigno, o Nacional, por um descuido da sua defesa, contra o mesmo Olympico deixou escapar a vitória, quando vencia o jogo por um a zero. Após a cobrança de um escanteio pela direita aos 46 minutos do segundo tempo, Cascadura colocou a bola na cabeça de Jarbas, que sutilmente desviou para o fundo do gol defendido por Zé Carlos.

Foi um jogo emocionante, sem contar com as manobras de bastidores. Antes da partida, reconhecendo as qualidades do adversário, a diretoria do Nacional tentou tumultuar. O desembargador Joaquim Paulino Gomes, homem sempre muito equilibrado, chegou a se envolver pelo clima de “guerra” criado pelos seus companheiros de diretoria e anunciou que o Nacional não entraria em campo. Queria ganhar tempo, a fim de que alguns jogadores pudessem se restabelecer de contusões e de outros problemas. Edson Piola, por exemplo, uma das grandes estrelas da equipe, não conseguia sarar de uma gripe que o atormentava há quase uma semana. Mas não teve jeito. O jogo foi mantido por Flaviano Limongi, presidente da recém criada FAF, e o Naça teve que comparecer para cumprir o compromisso. E dois a zero foi um placar compatível com o irrepreensível desempenho da equipe dos “cinco anos”, presidida à época pelo empresário Alfredo Soares. Uma cobrança de falta perfeitamente executada pelo lateral Sales e um chute certeiro de Gilberto comprovaram a inquestionável capacidade técnica do Olympico que retornava ao futebol pela quarta vez desde a sua fundação em 17 de outubro de 1939.

O trabalho de preparação começou obedecendo a orientação do técnico Moacir Bueno, mas o trabalho final ficou para o goleiro Dari, que decidiu investir no arrojo e nas boas qualidades técnicas do jovem goleiro Procópio. Resultado: Dari contentou-se com a condição de técnico e o garoto José das Graças Procópio virou titular absoluto. Além do goleiro revelação, Russo e Sales eram os outros amazonenses, pois Sidney, Xerém, Jarbas, Cascadura, Gilberto e Iralto eram cariocas, enquanto Faustino e Santiago foram importados do Pará. No jogo final o time deu uma verdadeira aula de futebol, capaz de empolgar até os torcedores mais contidos. O empresário Belmiro Vianez, naquele tempo reconhecido como o melhor comentarista esportivo, não economizou elogios para o seu “Olympico dos meus amores”.

Depois do fracassado retorno em 1964, sob a direção de Gregório Dias, no início do profissionalismo, o clube da rua João Coelho, hoje Constantino Nery, resolveu fazer mais uma tentativa. Dessa feita, movido pelo entusiasmo de Fernando Loureiro, que teve passagem como dirigente pelo Santos, Fast e Rio Negro. O plano de Loureiro previa um gasto de 20 milhões de cruzeiros, incluindo salários, pagamento de luvas, móveis e despesas com a residência dos atletas. Para atender as despesas, a receita seria fruto das contribuições de colaboradores e das arrecadações dos jogos.

Como presidente do departamento autônomo, Loureiro pediu a contribuição de Arthur Tribuzzi, que foi até o Rio de Janeiro e contratou sete jogadores, com 500 mil de luvas e salário mensal de 250 mil cruzeiros, cada um. O técnico Moacir Bueno, para sair do Rio, exigiu e recebeu luvas de hum milhão e 500 mil cruzeiros e salário de 500 mil por mês. Mas o time precisava de mais gente e essa parte foi resolvida com a prata da casa, e dois paraenses que tiveram que se contentar com luvas, em média, de 250 mil e salário de 150 mil cruzeiros. E tudo correu às mil maravilhas enquanto o time conseguia dar espetáculos. Mas a seqüência de resultados negativos, no campeonato de 1968, terminou por afastar as ofertas de contribuições e o time passou a ter dificuldades, fora e dentro de campo.

Dos onze titulares, apenas Procópio, Sales e Russo integravam o grupo prata da casa. Procópio, que hoje é engenheiro e mora em Fortaleza, surgiu no juvenil do São Raimundo e depois chegou a ser titular no Nacional. Sales, que foi campeão pelo São Raimundo jogando como lateral direito em 1961, experimentou o segundo título da sua carreira como um eficiente lateral esquerdo. Russo, que passou pelo Expressinho e Labor, de Educandos, pelo próprio Olympico em 1964, e Nacional em 1965 e 1966, retornou ao clube dos cinco aros para ganhar o primeiro e único título da sua carreira. Russo, cujo verdadeiro nome é Azamor, hoje com quase 80 anos, dedica-se a sua atividade de comerciante no Mercado do bairro de Cachoeirinha. Participaram da campanha Dari, Irá, Valfrido, Armando, Waldir Lima, Copá, Airton, Sérgio, Normando, Tomás e Geba.

Só para relembrar, o Olympico ganhou o campeonato de1967 com Procópio Sidney, Faustino, Russo e Sales; Xerém e Jarbas; Cascadura, Irailto, Gilberto e Santiago.

OUTROS TÍTULOS

Além do título de1967, o Olympico que completou 80 anos em outubro, ganhou o seu primeiro campeonato em 1944, numa decisão contra o Rio Negro. A equipe era constituída por Théo, Periquito e Tuta; Catré, Gióia e Júlio; Cabral, Fedegundes, Marcos Gonçalves, Dorval e Mário Matos. Em 1947, com uma equipe reformulada, ganhou o seu segundo título com Luizinho, Caçador e Aurélio, Salum Omar, Gatinho e Dog; Cabral, Zé Luiz, Raimundo Rebelo, Sílvio e Juvenil.

Fedegundes, que participou da primeira campanha vitoriosa do Olympico, costumava relembrar as circunstâncias em que chegou a Manaus. Veio integrando a equipe do Paysandu de Belém, no navio Belo Horizonte, da empresa Amazon River. Isso

aconteceu em 1939 e a delegação paraense ficou hospedada na sede do Fast, na rua Tamandaré. A estreia foi contra a União Esportiva e o Paysandu venceu fácil por 3 a zero. Mas no segundo jogo contra o Olympico a coisa foi muito diferente. Tão diferente que terminou em pancadaria. Aos 30 minutos do segundo tempo, quando o jogo apresentava o empate de dois a dois, o zagueiro Tuta do Olympico acertou um pontapé em Heitor do Paysandu e o tempo fechou. Brigaram os 22 jogadores, torcedores e policiais da cavalaria. Felizmente, entre mortos e feridos, escaparam todos. Fedegundes resolveu ficar em Manaus e passou a fazer parte da história do clube, que resolveu abandonar o futebol em 1973, após um erro de arbitragem.(Nicolau Libório é Procurador de Justiça, Jornalista e Radialista – [email protected])