Profissionais de saúde do município participam de estudo nacional de autocoleta para detecção do HPV

A Prefeitura de Manaus está participando de uma pesquisa nacional sobre a aceitabilidade da autocoleta para a detecção do papilomavírus humano (HPV), causador do câncer do colo do útero, entre mulheres que não aderem ao exame preventivo para a doença. A iniciativa é realizada em Manaus, com a parceria da Secretaria Municipal de Saúde (Semsa), por meio da Escola de Saúde Pública (Esap), e em outras quatro cidades, Maringá (PR), Ouro Preto (MG), Natal (RN) e Goiânia (GO).

Denominado “Previna-se”, o projeto está sendo desenvolvido em Manaus com a participação de 12 agentes comunitárias de saúde (ACSs) da Semsa, integrantes de equipes de Estratégia Saúde da Família (ESF) da Unidade de Saúde da Família (USF) Theomário Pinto da Costa e da USF Luiz Montenegro. Ao lado de pesquisadoras da Universidade Estadual de Maringá (UEM), que coordena o estudo nacional, elas atuam no contato e sensibilização das mulheres para a realização de exame preventivo do câncer uterino.

As visitas das ACSs iniciaram nesta semana, com a meta de alcançar 320 mulheres na faixa etária de 25 a 64 anos, que nunca fizeram ou estão há mais de quatro anos sem fazer o preventivo do câncer do colo do útero, definidas como público-alvo da pesquisa. Desse total, metade vai receber o dispositivo para autocoleta em casa, e para a outra metade será ofertado agendamento do exame preventivo tradicional em uma unidade básica de saúde. Ao todo, o projeto deve abranger 1.600 mulheres nas cinco cidades participantes.

Conforme a chefe do Núcleo de Pesquisa, Extensão e Inovação em Saúde da Esap Manaus, Márcia Poinho, os resultados da pesquisa podem vir a apontar um novo caminho na prevenção do câncer do colo uterino na atenção primária à saúde no país, caso confirmada a aceitabilidade e a eficácia da autocoleta para detecção do HPV. “A proposta, segundo a coordenação do projeto, é que a oferta da autocoleta possa se tornar uma política de saúde nacional”, aponta.

Márcia ressalta que, ao avaliar a aceitabilidade da autocoleta como método de prevenção do câncer uterino, a pesquisa ajuda a apontar também os fatores que levam as mulheres a deixar de lado o método tradicional, e que não se resumem à falta de acesso ao procedimento. A gestora, que acompanhou as ACSs em visitas pelo projeto, apontou alguns desses fatores nos relatos de mulheres abordadas.

“Muitas disseram que pararam de fazer o exame durante a pandemia e não voltaram mais, outras não buscam por vergonha, outras porque sentem dor no procedimento. Uma senhora que estava há 26 anos sem fazer relatou que não gostava de se expor”, conta.

Formação

A primeira etapa do “Previna-se” em Manaus ocorreu nos dias 30 e 31/1, e no dia 1º/2, com a presença de pesquisadoras da UEM, entre elas a coordenadora do projeto, professora Márcia Consolaro, no treinamento das agentes comunitárias para atuar na pesquisa. Nos encontros, as servidoras receberam informações sobre o HPV e o câncer do colo do útero, e orientações para a abordagem às mulheres em atraso com o preventivo.

 

Márcia aponta que o treinamento constitui um ganho para as equipes locais, na medida em que as agentes irão atuar também como multiplicadoras da atividade. “Como em todos os projetos dos quais a Semsa participa em parceria, também pedimos às pesquisadoras para acompanhar o trabalho em campo e conhecer a realidade local, permitindo uma troca maior com as equipes”.

A servidora da Esap Manaus destacou ainda o papel essencial das ACSs no acesso às mulheres alvo da pesquisa. “Elas conhecem pelo nome as pessoas e circulam nas comunidades. A senhora que estava há 26 anos sem fazer o preventivo aceitou fazer o exame após conversar com uma das agentes da equipe”, relata Márcia.

Em Manaus, o “Previna-se” tem como centro coordenador a Fundação Centro de Controle de Oncologia do Estado do Amazonas (FCecon), em parceria com a Semsa. O projeto conta com financiamento do Departamento de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde.

Prevenção

O câncer do colo do útero é o tumor maligno mais incidente entre mulheres em Manaus, e o terceiro no Brasil. Conforme o Instituto Nacional do Câncer (Inca), em 2020, a taxa de mortalidade por esse tipo na região Norte foi de 9,52 mortes por 100 mil mulheres, sendo a primeira causa de óbito por câncer feminino nessa região.

O HPV é considerado o principal agente causador do tumor maligno. O rastreio da doença é feito por meio de exames preventivos para detectar os estágios pré-cancerosos da doença, que pode levar até 15 anos para se manifestar após a infecção pelo vírus.

Em Manaus, além do método tradicional, é ofertada na rede básica de saúde a coleta do preventivo em meio líquido, considerada superior e hoje disponível em 37 unidades da Semsa. O município foi pioneiro entre as capitais brasileiras na oferta do método pelo Sistema Único de Saúde (SUS), iniciada no ano passado.

O câncer uterino é altamente prevenível, tendo grandes chances de cura quando diagnosticado de forma precoce e tratado adequadamente.