Um Candidato a Grão Mestre – Por Félix Valois

Advogado Félix Valois(AM)

Há muitos anos alguém tratou comigo da possibilidade de eu ingressar na maçonaria. Confesso que fiquei curioso e entabulei conversa a respeito do assunto. Afinal de contas, seria falha imperdoável desconhecer a importância da instituição, envolvida em episódios marcantes na história da humanidade, com especial relevo para alguns ocorridos em nosso país, como é o caso da independência. Mas a empreitada não pôde seguir adiante porque fui reprovado logo na primeira questão atinente aos requisitos para a admissão. É que, explicou-me o interlocutor, acreditar em Deus é elemento indispensável para participação nos quadros da ordem, eis que ela própria faz repousar nessa crença a sua estrutura e a sua doutrina.

Mesmo depois de tanto tempo passado, não esqueci o fato. E ele voltou mais forte à lembrança, quando meu amigo José Bezerra de Araújo, Zico, me deu conta de que está em campanha para o cargo de Grão Mestre da Grande Loja Maçônica do Amazonas, em eleição que ocorrerá nos primeiros dias de agosto. Informou-me da importância do pleito, uma vez que se trata do posto mais elevado em nosso Estado, dentro da estrutura organizacional da maçonaria. E eu fiquei feliz em saber que meu amigo tem status para manifestar essa pretensão.

Mas não foi uma surpresa. Conheço o Zico há décadas e com ele firmei uma forte relação de amizade, através da qual me foi possível estabelecer sua dedicação aos estudos e sua indiscutível vocação musical. As cordas do violão por ele tangidas já foram responsáveis por inúmeras noites em que a Sede, no afã de manter sua tradição artística, proporciona verdadeiros recitais de música popular brasileira. (Para os leigos: Sede é a respeitável confraria em que os amigos e eu nos reunimos semanalmente para tratar de tudo ou de nada e que é, acima de tudo, eclética). E canta também, principalmente depois que perdemos nosso seresteiro maior, o Simas Vieira, que, igualmente maçom, deixou este vale de lágrimas há quatro anos.

Uma bela noite, Zico me disse que ia fazer vestibular para direito. Não sendo ele um jovem recém-saído dos bancos escolares do ensino médio, a notícia me soou no mínimo inusitada, pois não é frequente que, passado o momento convencionalmente oportuno, ressurja o desejo de frequentar aulas. Mas não o desestimulei. Muito ao contrário. E fui testemunha da dedicação com ele se entregou ao curso. Sem dinheiro para esbanjar, teve que recorrer ao FIES para financiar as elevadas prestações da escola, frutos da estrutura capenga em que se encontra o nosso sistema educacional. E foi até o fim, revelando-se aluno primoroso e hoje, advogado da melhor estirpe.

Foi meu aluno em direito penal. Não me recordo se logrou arrancar algum dez na disciplina. Com este velho professor, isso era tarefa quase impossível, na medida em que jamais abandonei a esperança de poder transmitir o máximo de conhecimento possível, cobrando a devida contrapartida. Sei que se formou, foi aprovado no exame da OAB e hoje brilha nos pretórios amazonenses.

Quando de sua formatura, dirigi-lhe, a ele e a Wagner Michetti, as palavras que abaixo transcrevo:

“Não encontrarão somente flores na estrada, é uma advertência óbvia, mas necessária. Uma burocracia empedernida, transforma o cotidiano da vida forense numa luta contra o tempo a exigir dos advogados, principalmente dos advogados, uma paciência transcendental que nos permita obter a capacidade de explicar aos clientes aquilo que nem nós conseguimos compreender.

É para desanimar? Não, eu lhes respondo com toda a veemência que meus quarenta anos (hoje são mais de cinquenta) de advocacia me permitem.

Mesmo diante de toda a iniquidade que se lhes apresente, não esmoreçam, nem percam de vista o ideal da luta pela verdadeira justiça. Abrir mão dele seria descrer da própria humanidade e a defesa da causa desta integra o juramento que acabaram de prestar.

Se ficarem na advocacia, meus novos e queridos colegas, redobrem a paciência e os estudos e tenham sempre presente que a nós advogados não nos é dado o direito de soltar fogos, na vitória, nem de chorar, quando da derrota. Sejam profissionais na acepção verdadeira da palavra, respeitosos, mas não subservientes, altivos, mas não arrogantes, jamais esquecendo a importância do múnus que nos foi conferido. E, acima de tudo, sejam intransigentes no respeito à ética”.

Vi cumpridos os meus desejos. Por tudo isso, cuido que se José Bezerra de Araújo, o Zico, ao qual não faltam competência e honestidade, obtiver êxito na eleição que disputa, a maçonaria estará muito bem servida.(Félix Valois é Advogado, Professor, Escritor e Poeta – felix.valois@gmail,com)