Vivaldão e sua História -Por Nicolau Lubório

Procurador Nicolau Libório(AM)

Naquele domingo de inauguração, no dia 5 de abril de 1970, Pelé, Rivelino, Carlos Alberto, Tostão, Brito, Jairzinho e outros craques foram os grandes astros do espetáculo que reuniu as seleções A e B do Brasil contra os escretes do Amazonas. Na preliminar o placar foi 4 a 1, dose repetida no jogo principal. Vale a pena lembrar que logo aos dois minutos do primeiro jogo entre as seleções B do Amazonas e do Brasil, Dario recebeu um esplêndido passe de Tostão, desceu pelo meio e, frente a frente com o goleiro Maneco, chutou forte para marcar um gol histórico na trave que dá para o lado do sentido bairro de flores. Arnaldo César Coelho foi o árbitro do jogo. Os ingressos que foram vendidos com bastante antecedência foram cobrados aos seguintes preços: geral – 7 cruzeiros, arquibancada- 15 cruzeiros e cadeiras (denominação dada ao local “privilegiado”, lá em cima onde o pessoal sentava era no cimento duro) a 30 cruzeiros.

Plínio Ramos Coelho, o tribuno que entusiasmava o povo com a eloqüência dos seus discursos teve importante participação e grande influência na área do esporte. Ele foi presidente do Nacional, no início da década de 1960, e autor da ideia da construção do Vivaldão.

Com a experiência de advogado, professor universitário, parlamentar brilhante, Plínio Coelho elegeu-se Governador do Amazonas ao sair vitorioso no dia 3 de outubro de 1954, quando derrotou Ruy Araújo, adversário político de respeito. Chegou ao poder em 1955 cheio de planos e determinado a realizar profundas mudanças, na administração visando restaurar a imagem desgastada do governo.

Da simpatia pelo futebol e preferência pelas cores do Nacional Futebol Clube, nasceu a ideia da construção de um estádio no bairro de Flores. Ele entendia que a evolução do futebol exigia algo bem acima do nível do Parque Amazonense e dos campos de pequeno porte, onde eram disputados os jogos das primeira e segunda divisões de competições que ainda não conheciam o profissionalismo.

A conquista do título, em 1957, pelo Nacional, aumentou o ânimo do governador. A sua primeira providência foi desapropriar a área. E não foi nada difícil, porque naquele tempo ninguém se importava muito com um terreno que ficava a quilômetros do centro da cidade.

Para homenagear um saudoso amigo e fiel correligionário, o então governador decidiu denominar a nova praça de esportes de Vivaldo Lima, bacharel em Direito, médico humanitário, professor, político respeitado que foi fundador do Partido Trabalhista Brasileiro, no Amazonas. Vivaldo Lima foi também presidente do Nacional Futebol Clube e fundador do Nacional Fast Clube.

De Vivaldo Lima, Plínio nunca dispensou seus conselhos de homem correto e inteligente. Logo, homenagem mais do que justa. A pedra fundamental do Vivaldão foi lançada na presença do filho do homenageado, senador Vivaldo Lima Filho. Mas daquela solenidade até a pré-inauguração com o jogo da seleção brasileira, em 1970, muitos anos se passaram.

Vale salientar que, se houve boa vontade de materializar a ideia, faltaram recursos no seu difícil primeiro mandato. De volta ao Palácio Rio Negro, Plínio só permaneceu no cargo de Governador até o dia 27 de junho de 1964, derrubado que foi pela ditadura militar.

Nas pré-inaugurações do Vivaldão em 1970 com Danilo Areosa e em 1973 com João Walter de Andrade, na inauguração em 1983 com Gilberto Mestrinho e na reabertura após a grande reforma em 1995, na administração Amazonino Mendes, Plínio Coelho quase não foi lembrado. Tenho dúvida que ele tenha comparecido a qualquer um desses eventos

DANILO COMEÇOU

Numa calorenta manhã do dia 30 de março de 1968, o governador Danilo Duarte de Matos Areosa, festejando o quarto ano da Revolução Militar chegou à imensa cratera do bairro de Flores para, diante de autoridades militares, auxiliares e jornalistas,anunciar o início das obras do Tartarugão, ou melhor, do estádio Vivaldo Lima. No momento em que um trator do extinto DER-Am demonstrava que a obra começava para valer, a partir daquele momento, Danilo Areosa garantia ao General Edmundo da Costa Neves, que estava ao seu lado, que dentro de breve tempo o Amazonas teria um dos melhores estádios do Brasil.

Em 1968, primeiro ano do governo Danilo Areosa, Manaus era uma cidade pacata. Ainda não havia a influência da televisão e a principal diversão do povo, excetuando-se as sessões dos cinemas Odeon, Avenida, Polyteama, Guarany, Ideal, Ypiranga Vitória e Popular, era o futebol, no Parque Amazonense e na Colina. Então a construção de um estádio de futebol era assunto que a todos interessava. Principalmente no Canto do Fuxico – Henrique Martins com Eduardo Ribeiro-, local preferido para o bate- papo nos fins de tarde, entre políticos, advogados, Promotores, Juízes, aposentados, jornalistas, radialistas e por toda e qualquer pessoa que quisesse gastar o tempo jogando conversa fora. Com o seu nome divulgado diariamente na programação esportiva das rádios e nas páginas dos jornais, o recatado governador passou a ser uma figura verdadeiramente popular.

Mesmo sendo um representante do poder revolucionário, Danilo despertava simpatia. Para levar adiante a sua intenção de transformar em realidade o projeto do arquiteto Severiano Mário Porto, após o pontapé inicial, criou o grupo executivo de construção sob o nome Administração do Estádio de Manaus – ADEM, que passou a reunir sob a presidência do Coronel PM Themistocles Trigueiro, uma vez por semana, em um barracão coberto de zinco, que ficava no lado correspondente à Avenida Pedro Teixeira. Do grupo faziam parte João Teixeira Fernandes Filho, Hugo Silva Reis, João Augusto Souto Loureiro, José Sérgio da Paz, José Cesário de Menezes, Carlos Lins, Irisaldo Godot, Arnaldo Santos e, logicamente, Flaviano Limongi, um dos mais entusiasmados.

O primeiro gol da história do Vivaldão foi marcado por um jogador atarracado, que chegou anos depois ao time principal do São Raimundo e que atendia pelo “criativo” apelido de Caroço. E aconteceu exatamente no dia 31 de janeiro de 1969. Naquele domingo, em traje-esporte, Danilo Areosa hasteava o Pavilhão Nacional, antes que

aproximadamente 150 garotos das equipes infanto-juvenil dos nossos principais clubes desfilassem pelo gramado. Não houve foguetes, discursos ou homenagens. E, para o governador, nem inauguração. Mesmo porque só havia o gramado, as traves e a imensa esperança de que o estádio seria brevemente uma realidade.

O grande destaque da festa foi o São Raimundo, primeiro campeão da história daquela que já foi a nossa principal praça de esportes.

O gramado pronto, obedecendo processos técnicos altamente modernos para a época, a construtora COINTER LTDA deu seguimento ao trabalho, fazendo os túneis e os vestiários. A parte seguinte foi tocada pela empresa Irmãos Prata, que travava um grande duelo com o radialista Arnaldo Santos, um dos mais exigentes fiscais do trabalho. Na primeira fase da construção foram gastos um bilhão de cruzeiros antigos, numa obra orçada em quatro bilhões. Contou com recursos da Loteria do Estado e, principalmente, das fábricas de refrigerantes Andrade, Luséia, Magistral, Baré, da cerveja Brahma, da Livraria Escolar e de outros seguimentos da iniciativa privada. Mas o estádio que foi a realização do sonho de abnegados desportistas foi para o chão, sem piedade, para dar lugar ao elefante branco chamado Arena da Amazônia.(Nicolau Libório é Procurador de Justiça, Jornalista e Radialista – [email protected])