Balalaika e o Dominó – Por Nicolau Libório

Procurador Nicolau Libório(AM)

Jogado em dupla ou individualmente, o dominó é uma modalidade ou alternativa de jogo para quem não tem pernas ou braços aptos para praticar um esporte que exija maior dinamismo. Não há necessidade de correria porque quem joga com as peças perde ou ganha sentado. Só é preciso ter atenção. Aliás, bastante atenção, a fim de que a jogada e o jogador não sejam confundidos com o carroção de sena.

Acho o jogo interessante e admiro quem sabe e gosta de jogar. Acho elogiável a rapidez de raciocínio na colocação das pedras e aplaudo a eficiência, na contagem dos pontos. O dominó inspira a confraternização. Reúne amigos, conhecidos, alguns chatos, vizinhos, compadres e comadres e não procura vedar o consumo da famosa cerveja gelada e muito menos do sagrado cafezinho de cada dia, ou de cada noite.

Manaus, no início dos anos 1960, colocou o dominó em grande evidência. Em 1963, em razão da empolgação dos muitos praticantes e da efervescência das disputas, os freqüentadores do Bar Balalaika, localizado na esquina das ruas Leonardo Malcher e Epaminondas, resolveram criar um clube. Para fugir da rotina os associados decidiram que a modalidade preferida seria o dominó. Não havia a intenção de contrariar e muito menos ser diferente. Para não parecer simples improviso, os fundadores do Atlético Balalaika Clube resolveram eleger um quadro de diretores com Antônio Andrade na presidência. O que ninguém nunca conseguiu explicar foi o Atlético no nome da agremiação, que tinha como proposta principal a prática de um jogo que não exige esforço físico. .

Na verdade, o clube Balalaika serviu para reunir os adeptos, coordenar a competição e colocar em evidência uma modalidade de jogo que já havia caído nas graças dos diversos bairros de Manaus. E o primeiro campeonato, reunindo 30 duplas, apontou Eliezer Mendes e Francisco Santana como os grandes campeões.

Em 1964 o circo pegou fogo. Foram tantos os interessados, que Antônio Andrade e seus companheiros tiveram que suar as camisas para criar uma estrutura mínima para permitir que 80 duplas se digladiassem. O embate final foi marcado por fortes emoções, levando ao salão de jogo as torcidas organizadas dos contendores.

A dupla Rodrigues-Campelo, do bairro de Cachoeirinha, superou as artimanhas de Judicael Almeida-Nelson Bentes, do Clube Municipal. Na festa de entrega da premiação teve discurso, abraços, samba e, para não quebrar a regra, muita cerveja gelada. Toda essa festividade foi transmitida pela Rádio Difusora, grande incentivadora do jogo de 28 peças.

Esse segundo campeonato serviu para destacar o nome do Balalaika e as virtudes técnicas de Rodrigues-Campelo, João Morais-Rodolfo, Sebastião-Edilson, Jaime-Nilson, Capitão Frota-Cancela, Paulo-Cavalcante, Luiz-Carlito, Pery-Valmir, Ferraz-Paulinho, Bandeira-Luiz, Gilberto-Gabriel, Izaú-Fiel, Aldemiro-Sebastião, José Félix-Max, Casemiro-Roberval, Vitoriano-Lucena, Leônidas-Sarrito, Oscarino-Calango, Martinho dos Santos-Ely Leão e muitos outros como Paulo Fleury.

O som forte da batida da pedra contra a mesa e o pedido firme para anotação dos pontos têm tudo para continuar seduzindo os atletas do menor esforço físico. A grande jogada é o raciocínio rápido exigido do jogador. Foi esse o lance que levou Antônio Andrade a ajudar a criar o Atlético Balalaika Clube. E que por falta de incentivo para continuar foi ajudar o futebol. Anos depois, atendendo convite de Flaviano Limongi, esteve a frente do departamento amador da Federação Amazonense de Futebol. O saudoso Andrade, justiça se faça, conseguiu ser um dos mais destacados nomes do esporte do Amazonas.(Nicolau Libório é Procurador de Justiça, Jornalista e Radialista – nicolauliboriomp@gmail.com)